domingo, 12 de agosto de 2018

FC Porto 5 x 0 GD Chaves | Trivelas & Roscas


O campeão FC Porto arrancou a Liga 2018/19 com a melhor exibição de Liga 2017/18. Não me recordo de ver um caudal ofensivo tão intenso em nenhum jogo da época passada, exceptuando talvez a recepção ao Paços de Ferreira (6-1). E mesmo aí a dinâmica morreu mais cedo. Ontem, entre os 88 e os 94 minutos, o FC Porto criou três ou quatro situações claras de golo, fruto de processos simples, mas que estão a maturar no barril há mais de um ano. Convenhamos que este Chaves vigiou pior o seu território do que um segurança da Primark em época de saldos, ainda à procura da melhor versão com Daniel Ramos. Mas a verdade é que as clareiras abertas pelos flavienses foram exemplarmente aproveitadas pelos atacantes do FC Porto, num registo de pragmatismo e eficiência na ocupação dos espaços que era geralmente exclusivo de um jogador que ontem nem lá esteve: Moussa Marega. Embora ainda seja demasiado cedo para entrar em apreciações profundas, os primeiros sinais são promissores e a evolução é inegável. Não serão certamente 33 jogos assim, mas se o benchmark for a noite de ontem, estou convicto de que vamos ser bicampeões.


Brahimi: Há um ditado no mundo árabe que é qualquer coisa como isto: se Brahimi não vai ter com a bola, a bola vai ter com Brahimi. Yacine fez ontem uma das melhores exibições que o vi fazer com a camisola do FC Porto. Impressionante a forma como se desdobra na ala com Telles, sem deixar de falar a mesma língua que Aboubakar. O seu drible curto, cada vez mais afiado, parecia uma faca quente sobre a manteiga de Chaves. Lidaram com ele, pelo menos, quatro jogadores adversários no 1x1. E voltaram todos sem histórias para contar. Confidenciei com os meus pares no Twitter que Brahimi não é importante para a revalidação do título: é fundamental. Pelo que a sua mais do que provável saída a custo zero na próxima época é um preço que pagarei sem grande sacrifício. Os negócios do FC Porto ainda são as vitórias.

Aboubakar: Se não estivesse em pré-época, teria feito mais golos, tal foi a quantidade de ocasiões que desperdiçou e os momentos em que demonstrou ainda não estar na melhor forma. Não deixa de ser, contudo, o avançado mais objetivo que temos neste momento (Soares está indisponível e Marega está numa realidade paralela). Belo trabalho no primeiro golo, ao nível do que nos habituou. Conclusão simples no segundo, sob pena de levar uma marretada do mister se não marcasse. Excelente trabalho de entendimento com Brahimi no terceiro, que praticamente matou o jogo.

Maxi: Excelente jogador este jovem recrutado no defeso ao Defensor Sporting do Uruguai. Tem uma maturidade assinalável para alguém tão novo: parece que já conhece o campeonato português de trás para a frente. Esteve seguro a defender e exímio no apoio ao ataque. Mas o melhor de Maxi é a capacidade física, que mesmo num jogador de 22 anos é invulgar. Com um pulmão incrível e uma qualidade técnica assinalável (não fosse ele extremo de formação), prevejo que lá para os 28 anos deva atingir o pico da carreira.

Sérgio Oliveira: Irrepreensível. Sérgio é um jogador inteligentísimo, que nem sempre encontra no jogo a melhor forma de manifestar o seu futebol. Recorrendo à velha metáfora dos bólides no futebol, Sérgio está cada vez mais parecido com um Range Rover. Traz um excelente sistema de navegação e conta com um forte poder de tracção. O problema é que não se vai adaptar a todo o tipo de estradas. E é por isso que temos um roadster no banco que será certamente mais útil noutras pistas.

Otávio: Disclaimer: sou um dos maiores críticos do brasileiro porque nunca lhe reconheço velocidade e competência suficiente para fazer rodar a bola. Contudo, ontem foi um dos melhores. A pressionar, a procurar linhas de passe, a jogar de cabeça levantada. A jogada do 2x0 é um passe magistral de Sérgio Oliveira que só existe porque Otávio percebeu onde estava o espaço.



Nuno Almeida/Vasco Santos: A Liga pode mudar de slogan quantas vezes quiser, que enquanto mantiver os cancros no activo, será apenas só mais uma competição com interesse interno para meia dúzia de parvalhões como eu. Nuno Almeida esteve péssimo na avaliação dos lances e nem creio que tenha sido só contra o FC Porto. É que não acertou, literalmente, uma. Perdoou um penalty sobre Otávio, um amarelo a Maxi e teve de recorrer ao VAR para transformar a entrada de sola de João Teixeira sobre Sérgio Oliveira no merecido vermelho. Pelo meio, Brahimi também podia ter levado um amarelo. Um chorrilho de más decisões que só torna o futebol português ainda mais periférico.



André Pereira: Não é propriamente um reforço, mas vocês percebem a ideia. Teve apontamentos interessantes, tendo sido uma óptima bengala para Aboubakar, chegando mesmo a cheirar o golo a espaços. Está a obter um rendimento que não esperava dele, não tenho qualquer problema em reconhecê-lo. Não creio que Pereira seja um matador por excelência, mas se for o sidekick incansável que foi ontem, os colegas vão ter de lhe pagar uma grade no final da época.

Leite: É mesmo preciso escrever alguma coisa? Quem acompanha os B e os sub-19 já sabia que Diogo é um nome abençoado na formação portista. É provável que Militão possa ganhar o lugar nos próximos tempos. Digo isto porque Militão é um central feito, que vai acrescentar poder de fogo nas bolas paradas ofensivas. Por isso, espero que Leite não seja engavetado. Seria uma pena. É o melhor central a sair da formação azul-e-branca desde Ricardo Carvalho.

Adrian: Só não percebi porque não foi aproveitado o ano passado, se a estratégia já passava por jogar com dois avançados. Talvez por falta de compromisso. A verdade é que este ano parece mais empenhado e integrado do que nunca. Ontem, a par de Otávio, foi dos mais inteligentes a ler o jogo sem bola. Vai ser muito útil. Nunca é tarde para a redenção.

Marius: Se calhar é aqui que eu e tu vamos divergir. Claro que um miúdo do Chade que vem de um submundo futebolístico e humano diretamente para o Dragão e marca na estreia é uma imagem que dificilmente esquecerei. Claro que o ambiente lhe pesou nos 15 minutos em que esteve em campo, onde a vontade e a ansiedade o sabotaram, causando-lhe alguns momentos de precipitação. Marcou e foi merecidamente feliz, tendo ainda a humildade de ir agradecer o golo a Sérgio Oliveira. Mas é evidente que há uma camada de terra muito densa sobre ele que precisa de ser polida - nem se esperava outra coisa. Por mim, é o tipo de jogador que vai precisar de (muitos) minutos na B mas que manteria sempre por perto. Com uma boa gestão, esta aposta pode ter um bom desfecho. Espero que, daqui a uns tempos, a única dúvida que nos reste seja entre chamar-lhe SuperMarius ou Marius Jardel.

3 comentários :

  1. Mouandilmandji! É fácil! Nem trava na língua nem nada! :) LOL

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    1. So agora é que vi isto, eheheh. Ando tão atento como o Sergio Oliveira a defender.

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  2. todo certinho , direitinho, andre pereira e so o nosso melhor avançado e leite o novo beckanbaur se quiser e o deixarem os SC da praça, pena gonçalo se ter fartado do pontape para a frente de SC.

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