quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Galatasaray 2 x 3 FC Porto | Trivelas & Roscas

Foto Goalpoint.pt

Fosse possível colocar o Galatasaray x FC Porto de ontem no forno saía uma lasanha do Lidl. Um tijolo homogéneo de contradições alimentares, longe de ser bonito, sem organização ou estética, onde todos os ingredientes se atropelam e atrapalham, mas que no fim de contas sabe bem. Sabe bem porque, apesar de não ter sido uma exibição feliz, terminou com a vitória e o igualar de um recorde de pontos na Champions com 22 anos. Fez também com que as comparações entre Marega e Mário Jardel passassem – nem que seja por um dia – a ser estatísticas em vez de anedóticas. Encheu-nos o bandulho de orgulho tripeiro, embora qualquer pessoa responsável tenha a noção de que este é um tipo de refeição pouco recomendável. É isso. O Gala x Porto foi uma lasanha do Lidl. Notas.


Hernâni: O homem que estava no sítio certo à hora certa no Bessa está a gerir bem o capital de confiança. Vamos ser honestos. Nem ele é tão mau como se pinta, nem passou a ser um jogador de nível Porto. Mas o golo ao Boavista pode tê-lo salvo da insolvência emocional para onde parecia estar a caminhar. Ontem mostrou-se muito mais arisco no 1x1 e sério na abordagem ofensiva. Cavou um penalty e trabalhou bem a assistência para Sérgio Oliveira, tendo sido o principal dinamizador do ataque portista na ausência dos pesos pesados. Merece a trivela.

Iker: Tornou-se no segundo jogador a chegar à centésima vitória na prova rainha (o primeiro foi Cristiano Ronaldo), mais um carimbo no seu estatuto olímpico no futebol mundial. A sua presença na baliza é de tal forma sobrenatural que forçou Garry Rodrigues e Derdiyok a chutarem dois golos feitos para o telhado da peixaria Lena, mesmo no centro de Istambul. E ainda defendeu um penalty só com o cajado. Enfim, 100 Iker.

O lado positivo das alterações: Houve muitas alterações na equipa e isso condicionou naturalmente o nosso jogo. Mas o ataque, possivelmente o sector de onde se esperaria menos, esteve bastante interessante nos pés de Ádrian e Hernâni, com Marega igual a si próprio. Herrera também conduziu bem o nosso jogo na primeira parte, embora faltasse sempre uma pincelada criativa ou capacidade de decisão no último passe, o que congestionou parte dos nossos lançamentos ofensivos. Ainda assim, a nota geral é positiva.



O lado negativo das alterações: A defesa portista foi como uma daquelas fotografias de grupo na madrugada de Ano Novo: não se pode dizer que haja alguém que tenha ficado bem. Maxi juntou lentidão de processos a uma marcação quase sempre deficiente a Garry Rodrigues que culminou num penalty. Depois do golo marcado, Felipe entrou num chorrilho de disparates e abordagens imprudentes que culminaram num penalty. Diogo Leite não cometeu tanta asneira visível mas padece de uma falta de noção posicional gritante, que urge ser trabalhada. Alex Telles acumulou uma série de erros na saída de bola e deixou escapar mais vezes o seu adversário do que uma prisão colombiana. Foi uma vitória por 3x2 que poderia ter sido muito bem uma derrota por 5x4.

Arbitragem: Uma das piores que vi num jogo de Champions. Começa com a gestão amadora do lance de grande confusão na área do FC Porto que abriu a partida, onde o bielorrusso Aleksei Kulbakov não viu um oceano de ilegalidades cometidas pelas duas equipas e consultou os assistentes pela ordem errada. Viu uma falta inexistente sobre Hernâni na área turca, enquanto fazia vista grossa à agressividade dos jogadores do Galatasaray. Foi uma sorte ter terminado o jogo sem receber cartão vermelho da UEFA.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Boavista 0 x 1 FC Porto | Trivelas & Roscas

Foto JN

Vitória suada, suadíssima, no intemporal derby da invicta, que fez no domingo uma viagem a um passado mítico, onde a definição de pontapé não incluía necessariamente a bola. O FC Porto agarrou os três pontos no último lance do jogo, a marca inequívoca de uma equipa perfilada à imagem do seu treinador: nunca desiste - mesmo quando os adeptos já desistiram. Essa é talvez a característica que melhor distingue o FC Porto de Sérgio Conceição dos antecessores. Desde a derrota na Luz, sempre que o FC Porto chegou ao último quarto de hora empatado, os adversários foram massacrados até ao último suspiro. O que, sendo um carimbo do compromisso que esta equipa - e o seu treinador - têm para com a vitória, não deixa de ser preocupante. Este ano, o FC Porto já resgatou 12 pontos nos últimos dez minutos. Desses, 4 foram para lá dos 90’. Três das quatro vitórias arrancadas a ferros (Belém, Tondela, Braga e Boavista) foram por 1-0, um indicador da falta de eficácia dos avançados e/ou da forma como o plano tático montado por Conceição não resultou durante a maior parte do tempo. Por isso, mais do que absorver a euforia da late victory, temos de pensar porque é que só estamos a chegar lá quando já reina a anarquia táctica.



Militão: A frieza com que aborda cada lance, mesmo na grande área, faz-me desconfiar que resista à fome dos tubarões em Janeiro. Militão trouxe consigo a estabilidade que a equipa pedia desesperadamente no arranque do campeonato. E aproximou o registo de Sérgio Conceição do de Vítor Pereira, provavelmente o treinador com melhor organização defensiva que passou pelo clube nos últimos anos. Ainda comete alguns excessos, fruto da exuberância que transporta, mas até nisso parece saber onde pode errar com segurança. Desde o desaire na Luz, o FC Porto não voltou a sofrer golos no campeonato. O segredo do sucesso defensivo passa e muito por Militão.

Banco: A profundidade era um dos temas fracturantes do início da época, mas os números contrariam a teoria. Dos 50 golos marcados esta época, 10 vieram do banco. E a explosão de alegria no Bessa foi inteiramente construída por três suplentes. Soares, Adrián e Hernâni. O registo prolífico das alternativas não significa necessariamente que o FC Porto tem um plantel completo e bem montado. Os desequilíbrios existem e não foram resolvidos pelas contratações tardias do defeso: Bazoer e Jorge. O que tem disfarçado a problemática é a reciclagem de ativos como Adrián e Óliver, os verdadeiros “reforços” do FC Porto 2018/19.



Brahimi: Desinspirado, desconfiado e irritadiço. Precisamos de que o Ramadão futebolístico de Brahimi acabe rapidamente.