Há três tipos de jogos. Os que se esquecem mais rapidamente do que a tabela das velocidades do Código da Estrada; os que ficam eternizados na memória, com cada lance decorado e debitado até à forma mais irritante da exaustão, como um filme de Myazaki ou uma composição de Max Richter; e os que nos matam. O segundo jogo do FC Porto na Liga 2018/19 foi um destes últimos. Não me recordo da última vez que ganhámos com um golo aos 95'. Honestamente, não me recordo do último jogo ganho nos descontos depois do momento Kelvin. Mas em boa verdade, no preciso momento em que vos escrevo, não me lembro de nada, depois do bungee jumping de emoções que vivi nos últimos 30 minutos. Vencemos e isso, no fim de contas, é o que interessa. Mas com um empréstimo da sorte e com alguns sinais preocupantes, como a incapacidade em gerir um resultado tão favorável. Valeu pela crença e pelos três pontos resgatados num campo (kind of) onde o ano passado os deixámos.
Diogo Leite: Jogo seguríssimo do miúdo, coroado com um golo e um aviso saudável a Militão, que terá de conquistar o seu espaço. No lance do penalty, não há muito a dizer. Tal como Xistra. marcaria ambos os penalties. Porque tanto um gesto como o outro são o tipo de lance que quem joga futebol sabe reconhecê-lo. Não são movimentos anatomicamente instintivos. O primeiro instinto do corpo humano quando se prepara para receber o impacto de um objecto é encolher-se, com os braços a liderar esse movimento e a proteger de imediato as zonas mais sensíveis. Tanto Diogo Leite como Henrique não tinham qualquer tentativa deliberada de interceptar a bola, mas usaram os braços para reduzir as hipotéticas trajetórias da bola. É precisamente por isso que existe a regra da volumetria, criada pelo International Board: a ideia de que um jogador abre os braços para aumentar o volume do corpo e reduzir assim ainda mais a possibilidade da bola passar. Pedro Henriques, o ex-árbitro, explicou-a depois do jogo. Durante os poucos anos em que joguei futebol federado, fui lateral-direito num clube das distritais de Lisboa. E em lances de área também abria o corpo para ganhar dimensão sabendo perfeitamente o que estava a fazer.
Otávio: A prova de que não sou um hater primário é o facto de Otávio aparecer nas Trivelas pela segunda vez consecutiva. Na primeira parte, conseguiu ser dos mais esclarecidos, no marasmo de ideias que foi o jogo ofensivo do FC Porto. Fez por merecer o golo, logo no arranque da segunda, numa leitura inteligente e oportuna, importantíssima para arrancar do Jamor os três pontos.
Maxi: Só pecou quando deixou Keita fugir-lhe nas costas no golo do empate do Belenenses. E mesmo aí, a culpa está longe de ser só dele. Trabalhador incansável, fez um jogo muito completo, com a capacidade física que se lhe conhece. Aos 90', andava na área adversária à procura do 2x3. No minuto seguinte, está na área do FC Porto a matar uma iniciativa do Belém. Teve dificuldades em travar Fredy na primeira parte, mas porque Fredy fez um jogaço de grande nível. Mesmo por aqui, Militão vai ter de suar para entrar no onze.
Belenenses: O ano passado tinha deixado um elogio ao futebol belenense de Silas, a única equipa capaz de roubar pontos a todos os grandes. Pedi-lhe que continuasse a ser igual a si próprio e o rapaz não me desiludiu. O Belenenses soube pressionar com eficácia e mostrou uma fluidez invejável na saída de bola, com o trio da frente a evidenciar mais inteligência nas movimentações à frente da área do que os jogadores do FC Porto na primeira parte. O Belenenses arrisca demasiado na saída de bola? Sim. Erra com equipas que pressionam alto como o FC Porto? Claro. Mas Silas teve tomates para manter a sua identidade e nem depois do segundo golo a sua equipa perdeu a cabeça, numa demonstração clara de frieza e pulso para jogar ao mais alto nível. A mutação de Diogo Viana de extremo medíocre para lateral competente é obra de Silas. A descoberta de Ljujic, sérvio que secou Sérgio Oliveira enquanto esteve em campo, no campeonato australiano também. Não faltará muito para que Silas comece a constar nas shortlists mais improváveis.
Reação: O FC Porto não pode esbanjar uma vantagem de dois golos daquela forma. Nunca. Compreendo que um penalty assinalado 5 minutos depois cause turbulência anímica nos jogadores, mas é aí que Sérgio Conceição deve intervir. O próprio treinador se deixou contagiar pela reacção nervosa da equipa depois do 2x1, demorando a ler o jogo e a resolver o que estava mal. Logo após o golo de Fredy, o FC Porto lançou-se numa corrida desenfreada e ansiosa pelo 3x1 que desequilibrou a equipa e acabou por permitir o empate. Foram 30 minutos de futebol sem fio condutor e sem cabeça, típico de uma equipa que está... a perder. Se fomos competentes sem ser exuberantes na primeira parte, muito por culpa da pressão do Belenenses, o adversário deve o empate à nossa incompetência em quase todo o segundo tempo. Não é um golo aos 95' que apaga o que (não) foi feito antes.
Aboubakar: Péssimo. É certo que foi prejudicado pela inércia dos colegas do meio-campo, que criaram pouco na primeira parte, mas isso não o iliba de cinco ou seis más definições que transformaram hipotéticas oportunidades de golo em jogadas sem memória. Parece ter começado a pré-época há duas semanas, tal é a forma como mata diversos lances com recepções assustadoras, que não vemos nem num hotel fantasma. Precisa de botar ritmo.
Sérgio Oliveira: Não é que tenha passado ao lado do jogo, porque a sua presença física foi crucial para travar o atrevimento do Belenenses em certos momentos, mas ofensivamente não existiu. A somar, um par de erros defensivos absurdos que quase davam golo. Não esteve nos seus dias.
Bom dia,
ResponderEliminarDepois daquela exibição majestosa contra o Chaves, em casa, este jogo contra o Belenenses daria-nos um retrato mais fiel dos automatismos da equipa, principalmente quando joga fora do Dragão. Embora este Belenenses possa ser dos adversários maia dificeis de enfrentar fora do dragão, é certo que o FCP não fez uma jogo nada bom. Fomos medíocres.
Digo isto já desde o fim da época passada: É preciso acrescentar qualidade no meio-campo e ataque. Se ano passado todos reconhecem que um milagre foi feito com a conquista do campeonato com o plantel que tínhamos, acho inacreditável que se pense em não acrescentar qualidade, especialmente nesses 2 sectores da equipa.
Será que a SAD espera a repetição do milagre????? Só pode.
Ano passado, quando foi preciso ir ao banco para fazer o onze, desperdiçamos uma ventagem de 5 pontos que quase que nos fazia perder o campeonato. Será que a SAD tem a secreta esperança que esta seja a época da vida de Corona, Octávio, Oliver e Hernâni???
Se no sector defensivo o clube soube contratar 2 jogadores de qualidade (Militão e Mbemba) e ainda incluir um muito promissor Diogo Leite no plantel, no meio-campo e ataque as contratações de qualidade são ZERO. Espero que até ao fecho do mercado o clube contrate jogadores para estes sectores. Se assim não for, creio que será um erro crasso por parte da SAD.
O próximo jogo é com o Guimarães em casa e só nos resta esperar que a dinâmica da equipa seja outra, e que erros cometidos hoje não se repitam!
POOOOOORRRRRRTTTTTTTOOOOOOOOOOO