sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Sporting 0 x 0 FC Porto (4-3 g.p.) | Trivelas & Roscas


Um dos aspectos mais notáveis da susceptibilidade humana é procurar explicações complexas para coisas simples. Somos a navalha da navalha de Occam. A contraparte que não se conforma com a improbabilidade. Que não aceita que nem sempre ganhe o melhor. Perdoem-me os neomarxistas da língua, mas a vida é mesmo assim. No terceiro clássico da época, fomos uma vez mais contra todas as possibilidades. Fomos superiores ao adversário, empatámos uma vez mais a zero e, no fim de contas, saímos outra vez a perder. Agora, tal como antes, perdemos bem e perdemos mal. Bem porque o Sporting foi mais competente nos penalties. Mal porque continua a faltar instinto durante os 90 minutos contra os arquirrivais. Sentimo-nos confortáveis na pele de predadores mas passamos demasiado tempo a rondar a presa, mostrando um certo receio de lhe tentar afiambrar o cachaço. O tempo suficiente para ela se refugiar na sorte. Vamos a notas:


Marega: Definir um jogo do maliano como excelente é dizer que deu muito trabalho ao adversário, lutou muito, suou como ninguém, correu mais do que todos os outros juntos, quis ganhar uma taça que, geralmente, ninguém se importa de perder. Porém, também é dizer que o faz com todos os defeitos que lhe são inerentes, como o perfil atabalhoado, a elevada propensão para o erro e a falta de definição. Pessoalmente, não me importo com a estética cubista do seu futebol. É como ter um impermeável comprado num outlet. Tem defeitos e linhas soltas, mas na hora do aperto cumpre a sua função. Útil, sobretudo, no futebol de correio-expresso que Conceição gosta. Isto não é uma piada com a Taça CTT.

Óliver: Quando Danilo abandonou lesionado, pensei que Sérgio Conceição fosse redefinir o elenco mantendo o modelo, atirando Reyes lá para dentro. Contudo, a entrada de Óliver trouxe uma mutação genética à equipa. Com riscos, mas também com boas perspectivas. Depois de quebrarem o gelo, Herrera, Sérgio Oliveira e Óliver, prenderam os movimentos de um adversário que tem no meio-campo a sua maior virtude. Óliver é, ao mesmo tempo, uma benção e uma chaga. Continuando na senda das comparações parvas, o seu CPU é consideravelmente mais rápido que os colegas. Os seus oito núcleos de processamento trabalham para uma equipa que, na fase de construção, pensa à velocidade de uma GeForce 4. Por isso, tende a desenhar jogadas geniais que só a sua cabeça (e a nossa) entende.



Lesão de Danilo: Depois de saber que pode variar entre um mês e dois, fiquei com imunodepressão. Seria um erro de leitura grave de Conceição avançar com ideias paralelas depois da segunda parte que fez com Herrera a 6 (tal como faz no México, com grande sucesso). A transformação da equipa foi evidente. Para melhor. O problema é mantê-la. Herrera é muito mais propício a desconcentrações que Danilo e pode custar mais golos. Mas Reyes iria tirar demasiado óleo ao motor sem a garantia de que vedaria tão bem quanto o Comendador.



Waris: Não o conheço. Ver jogos da Ligue 2 aparece para aí na 183ª posição da minha lista de passatempos. E dez minutos de jogo conversa não chegam, embora me tenha parecido um tipo educadadinho. Isso e um penalty batido com a convicção de quem quer deixar uma boa primeira impressão. Desde logo, salta à vista que Majeed Waris é o jogador-tipo de Sérgio Conceição. Compleição física de respeito, pulmão aberto, compromisso com a pressão alta, velocidade. Diz a tradição que somos bons a escolher jogadores oriundos da África subsariana ao Lorient. E fé, tenho sempre.

2 comentários :

  1. Caro Drax, boa noite.
    Bom artigo. Análise do jogo/equipa muito bem feita. Acho que o meu amigo, e outros nos nossos espaços da bluegosfera, tem sempre algo que eu não me apercebi, pelo menos claramnete.
    Destaco a apreciação profundamente realista sobre o Marega. Um dos nossos melhores independentemente de...
    Danilo, uma solução a 6 que não o HH (concentração) não seria preferível? Como se tem andado a portar o miúdo que emprestámos aos franceses e que, no ano passado, estava no VFC? É possivel trazê-lo? Seria uma alternativa válida? Caso fossemos ao mercado contratar um médio barato do porte do Danilo que lhe pudesse fazer concorrência, está a ver algum? Para a ala direita, o Paulinho pode ser solução trazendo qualidade no último passe? A minha reticência é que acho-o um pouco frágil. O Waris, já me tinham dito (familiar em França) que era reforço, Depois do pontapé de penalty contra os mais maiores grandes enormes scp, não tenho dúvidas, é mesmo. Sabe, é como quando vemos um jogador tocar a primeira vez na bola, a forma como toca diz-nos (quase) tudo.
    1 abç e viva o FCPorto contra tudo e contra todos.
    Luís Oliveira

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Para colmatar a ausência de Danilo há duas opções. Avança Reyes ou Conceição dá sequência ao plano B de quarta-feira, com Herrera a 6 e Sérgio Oliveira e Óliver (eventualmente Paulinho) a fecharem o triângulo. Eu optaria pela segunda.

      Mikel? Seria uma alternativa viável mas duvido que os termos do empréstimo não permitam o resgate antecipado.

      Contratar agora não me parece oportuno. Os clubes, sabendo que o FC Porto está a precisar, vão tentar espremer o sumo todo.

      Um enorme abraço, amigo Luís.

      Eliminar

Comenta com respeito e juízo. Como se estivesses a falar com a tua avó na véspera de Natal.