sábado, 2 de setembro de 2017

Disciplina avariada

O que têm em comum Eliseu, Mabil e Derley?

Comecemos pelos dois primeiros.

Esta semana, o Conselho de Disciplina da FPF ilibou Eliseu da pisadela deliberada a Diogo Viana no Benfica x Belenenses, de 18 de agosto. No mesmo dia, o mesmo órgão considerou que Mabil "pisou o adversário com força excessiva" no Paços x Vitória SC, de 26 de agosto.

O processo de Mabil demorou apenas dois dias a ser apreciado. O de Eliseu levou dez. Mabil foi suspenso por dois jogos. Eliseu foi absolvido. As imagens que se seguem falam por si.

Eliseu x Belenenses

Mabil x Vitória SC

Nenhuma das resoluções surpreende, embora a lógica que alicerça ambas seja anedótica. Quer no caso Eliseu, quer no caso Mabil, a mesa presidida por José Manuel Meirim escuda-se no relatório dos árbitros para sustentar a decisão final. Mabil foi "apanhado" pelo fiscal de linha, por isso foi punido com base no que foi escrito pela equipa de arbitragem. Eliseu escapou impune porque nem o árbitro Rui Costa viu a agressão, nem o videoárbitro Vasco Santos achou que tivesse sido uma.

Vasco Santos, provavelmente o elemento com maior influência no desfecho deste processo, entendeu "não ter existido qualquer agressão ou prática de jogo violento por parte do jogador do Benfica naquela sua ação". Apesar de ter analisado as mesmas imagens que toda gente viu, onde nenhum ângulo mente, o elenco do CD concluiu que a demonstração marcial de Eliseu foi uma reação natural e inocente.

Com isto, o CD aproveita e mata dois coelhos de uma só vez. Cola o fundamento da decisão ao julgamento subvertido do VAR e refugia-se na sentença que menos ondas levanta contra o órgão: a favor do Benfica. Em suma, livra-se de responsabilidades na polémica e sem abespinhar o polvo. É o recurso a um truque sujo para lavar as mãos.

Ora, o Conselho de Disciplina está a enviar duas mensagens perigosas. Por um lado, deixa implícito que o VAR vai concentrar em si um poder de decisão desmesurado, em última análise maior do que o do juiz principal. Por outro, o CD está a dizer-nos que neste tipo de casos prevalece o parecer do videoárbitro, mesmo que a sua opinião seja contrária à de 99% da nação futebolística. Instituições responsáveis pelo bom funcionamento da prova incluídas.

Em condições normais, Vasco Santos seria convidado a abandonar a arbitragem depois deste episódio, onde só ele, Pedro Guerra e José Marinho não vêm maldade no movimento debulhador de Eliseu, que fez das pernas do jogador belenense um trampolim. Como não existimos num país normal, ratifica-se a decisão e assobia-se para o lado. Alguém, mais tarde, haverá de pagar a fatura.

Mas vamos mais longe. Ainda na terça-feira, o mesmo Conselho que decidiu avaliar a intenção em vez da intensidade no caso Eliseu optou por medir a intensidade em vez da intenção num lance de Derley (Aves) contra o Boavista.

Derley x Boavista

Deliberou o CD que Derley "pontapeou um adversário na cara com força excessiva" no Boavista x Aves. Mas olvidou o facto de, tal como no lance de Eliseu, ter sido uma disputa de bola, onde o jogador do Aves nem sequer se apercebeu a aproximação do guarda-redes adversário. No máximo, foi imprudente. Mas aceitemos a deliberação final do Conselho. Derley foi suspenso por dois jogos, tal como Mabil. Eliseu não. Notam a diferença?

A Liga NOS conta com um organismo regulador que, na mesma reunião, baralhou a própria conduta e utilizou dois pesos e duas medidas na análise a cada caso. Os princípios da racionalidade e da equidade na justiça desportiva já foram abandonados há muito, em prol de uma nova metodologia que obedece exclusivamente a uma cor. É nesta pocilga que boia o futebol português, onde só quem sabe chafurdar, ganha. E consta que há por aí um clube a reclamar a hegemonia.

2 comentários :

  1. Caro Drax, muito brigado pelo seu post de 15/8/2015. Só agora cheguei ao seu blog e tenho estado a consultar alguns dos seus posts. Deixo hoje o meu obrigado porque talvez (não sei bem como funciona) não o fosse ler se tivesse comentado naquele excelente "O primeiro dia do resto das nossas vidas".
    Luís Oliveira, Lisboa-Belém. Sócio e adepto do FCPorto, e sócio do CFosB (desde os 6 anos, mas interrompido após Abril de 2014, quando os pastelinhos passaram a polvilhar-se de canela e açúcar sempre que defrontam os lampiões carnidenses). Também sei o que é ser FCPortista em Lisboa. Falou ambém por mim.
    1 abç e boa continuação. Ganhou mais um frequentador.
    LO

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    1. Só posso agradecer palavras tão generosas, Luís.

      Ser portista em Lisboa define-nos. É uma luta interminável contra o pensamento instrumentalizado que só nos fortalece. Enquanto adeptos e pessoas.

      Grande abraço.

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