Não é notícia o facto de o clube estar a passar por uma certa asma financeira, que dificulta a gestão do plantel e embarga os planos para o ciclo desportivo a longo prazo. Por isso, e sem surpresas, o FC Porto fechou o defeso sem qualquer contratação anunciada - além de Vaná.
No capítulo das entradas, o FC Porto perdeu. Perdeu porque tinha de perder. É óbvio que o Dragão procurou boas oportunidades de negócio ou operações financeiras equilibradas para fortalecer a equipa, mas quem se encontra no trapézio, neste momento, é o FC Porto. E a flexibilidade não abunda.
A nau portista sobreviveu ao vendaval do mercado sem rombos no casco. No entanto, continua sem mecanismos de emergência, o que torna qualquer acidente de percurso difícil de reparar. O XI base do FC Porto dispõe de qualidade suficiente para se candidatar ao título nacional, mas o plantel não tem a profundidade necessária para percorrer uma época longa, desgastante, com várias frentes e contra vários adversários. Dentro e fora de campo.
No global, estamos mais fortes, mais mecanizados e mais bem orientados do que no ano passado. Mas temos menos fail-safes.
Definhando a coisa por setores:
Na baliza, sobrevive o síndrome Bolat, que é aquela estranha patologia do FC Porto de comprar um guarda-redes low profile por época para nada. Confesso, quando vi o anúncio da contratação do guarda-redes brasileiro Vaná fiquei ali algures entre o satisfeito e o apreensivo. Satisfeito porque, por um lado, parecia que o FC Porto estava a dar sinais de estar financeiramente vivo e pronto para atacar o mercado. Apreensivo porque esta prática da SAD do FC Porto de coleccionar jogadores da mesma posição, não sendo nova nem exclusiva do nosso clube, é um fetiche que nunca deu grandes frutos, quer do ponto de vista desportivo quer da perspetiva financeira. Não é incomum ver o FC Porto contratar guardiões sombra, alternativas competitivas mas discretas, competentes mas diplomáticas, que saibam aceitar que a condição de partida é o banco. Entendi a contratação de Vaná como o destrancar da porta a José Sá para que o português pudesse ganhar rodagem para o futuro. Mas José Sá não saiu. O que significa que Vaná, que custou €1 milhão, deverá passar os próximos tempos entre a bancada e o sofá. Sobretudo, porque Sá tem uma vantagem assinalável para a restrita lista de inscrições na Liga dos Campeões: é português. Em relação a Fabiano, cumpriu-se o cenário mais provável. A sua presença no plantel é meramente figurativa: quando recuperar da lesão, deverá sair na próxima janela.
O dragão dispõe de três bons centrais e uma dupla que não dá grandes abébias a quem se queira por em bicos de pés. Felipe e Marcano são os zeladores fixos. Reyes estará lá para qualquer eventualidade. E só o pior cenário pode atirar Jorge Fernandes para o lago dos tubarões. Se o FC Porto tinha de cortar por algum lado, este seria um deles. Nas faixas, a permanência de Layún resolve o problema nos dois flancos. Importa saber qual será a disponibilidade psicológica do jogador, que me parece cada vez mais descomprometido do clube. A pior notícia foi a opção de compra com que Rafa foi para Inglaterra. A melhor foi a gripe de Ricardo Pereira. Porque foi apenas isso: uma gripe.
Haveria coisa mais natural que integrar Alberto Bueno neste FC Porto? Um jogador cuja melhor fase da carreira foi precisamente num esquema de dois avançados? Se Sérgio Conceição conseguir, e Bueno quiser, o espanhol pode assentar que nem uma luva no plantel e ser mais do que uma mera ferramenta de recurso da equipa. Este ano, o segredo deste grupo passa - e muito - pelas segundas vidas de muitos jogadores proscritos. Reyes, Marega e Aboubakar são exemplos a seguir. Acima de tudo, porque o exemplo partiu deles próprios. Tem a palavra Alberto. Se Aboubakar, Soares, Marega e Bueno garantem profundidade ao centro, o mesmo não se pode dizer dos corredores. Brahimi e Corona são de outro campeonato. Otávio tem dias e Hernâni tem velocidade. E é só. O FC Porto não está apenas sem alternativas ao argelino e ao mexicano, também está dependente da forma - sempre volátil - de ambos.
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No que diz respeito a entradas, o FC Porto não tem grande história para contar. Do lado das saídas, o saldo é positivo. E não estou a falar apenas de números. O FC Porto encaixou cerca de EUR70 milhões com a venda de cinco jogadores, sendo que somente um deles era titular regular em 2016/17. A venda de Ruben Neves é a que menos anima, tanto emocional como desportivamente, porque o médio tinha no modelo actual as condições certas para evidenciar as suas qualidades. Era o jogador mais apto para render Óliver ou Danilo. Deixando a futurologia para Nhagas e Zandingas, tenho a convicção de que Rúben Neves seria o 12º jogador do FC Porto de Sérgio Conceição.
Luís Gonçalves fez um trabalho excecional no alívio da folha salarial. O FC Porto desligou-se em definitivo de Josué, Abdoulaye, Ángel, Tiago Rodrigues e Sami, colocou Zé Manel, Boly e até Adrián López e ainda embolsou €300 mil com o empréstimo de Mikel. Não me recordo, nos últimos anos, de uma dieta tão rigorosa e eficiente. Urgia limpar todo este colesterol e, em grande medida, isso foi conseguido.
Nota final para os empréstimos de João Carlos Teixeira e Rui Pedro. Nada contra, até porque compreendo a necessidade de dar quilómetros e maturidade aos dois. Só não concebo os destinos: Braga e Boavista, dois emblemas que têm sido o espelho do antiportismo na região norte nos últimos anos. Há alianças bem mais nocivas do que certos antagonismos.
"Respondi" com um post, pode ser? :-)
ResponderEliminarE à altura. Belo artigo, camarada.
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