Atenção, Creuzebeck! Creuzebeck, meu filho, vamos lá que vai começar a baixaria.
A Liga Portugal anunciou na sexta-feira mais um casting para meninos queridos. Trata-se de uma pós-graduação praticamente idêntica àquela que atalhou caminho a alguns dos delegados da LPFP deste ano. Nomeadamente, a João Moura e João Pedro Rodrigues, dois causídicos de uma empresa contratada pelo Benfica para se defender do mailgate. Ambos estão, no mínimo, em situação de incompatibilidade. E ambos tiveram notas insuficientes nas provas de avaliação da Liga para figurar no quadro final. Porém, beneficiaram de uma regra martelada do processo de recrutamento de delegados, que oferece quatro vagas directas a quem frequenta a tal pós-graduação. Mesmo que a competência não assista ao candidato.
O jornal Abola publicou ontem uma investigação aprofundada ao mega escândalo que tem abalado o futebol português: o caso do túnel de Alvalade. Num exercício jornalístico irrepreensível, que reduz Joseph Pullitzer a mero estagiário da Dica da Semana, a bíblia do desporto olhou finalmente o elefante nos olhos e foi à caça dos factos que marcaram a noite do Sporting x Arouca. É, sem margem para dúvida, a história que faltava contar no desporto nacional e limpa em definitivo o clima em torno do futebol português. Foi cuspo ou fumo? Nada temam, Abola responde. E voltarão a dormir descansados. Pode ser que esta súbita epifania d'Abola tenha continuadade e a redacção já esteja nesta altura no encalço do outro grande problema do futebol português: a barba do José Sá.
Soubemos esta semana que o Benfica é uma espécie de concorrente do Preço Certo. Para onde quer que vá, sente-se obrigado a levar sempre o "presuntinho" da terra ao árbitro da partida. Está no manual das boas maneiras. Mas também está entre os preliminares que abrem caminho à corrupção. E talvez seja por isso que a UEFA o desaconselhe. As camisolas oferecidas pelo Benfica à equipa de Jorge Sousa, na última deslocação a Chaves, não violam as regras em vigor mas contribuem para a sua descredibilização. O presente do Benfica demonstra também duas coisas. Que as instâncias do país estão cada vez mais inquinadas pelo nacional-benfiquismo intravenoso, sobrando cada vez menos gente para questionar as suspeitas do clube da maioria; que o Benfica continua a tentar normalizar a cortesia aos árbitros, à espera que a sociedade do futebol acabe por aceitar e legitimar essa prática com o tempo. Temo pelo dia em que o FC Porto ainda seja multado por só oferecer robes e toalhas nos jogos no Dragão.
Este país tem tanto de bonito como de miserável. Está cheio de boas intenções que morrem quase sempre na irracionalidade de quem as pratica. E continua viciado num centralismo imperial desajustado dos nossos tempos. O FC Porto tem tentado evitar que a propaganda encarnada infecte irremediavelmente a cultura lusa, mas a máquina benfiquista continua a criar falsos ídolos. Será sempre uma luta desequilibrada.
O Benfica não é maior que Portugal. O Benfica apenas está acima de Portugal.
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