Correr debaixo de um calor abrasador não é para meninos. Ser treinado por Sérgio Conceição também não. Nem o ar quente que ontem secou os pulmões do Dragão desviou a equipa da identidade que tem relevado desde o início da época. A de um FC Porto que procura resolver a questão antes de ela se tornar um berbicacho. O FC Porto arrancou desperto, com ordem para empurrar a defesa do Moreirense contra o topo sul e vencê-la pelo cansaço. Soube fazê-lo, ainda na primeira meia hora, enquanto o motor não sobreaqueceu. Depois, trocou a vertigem pela lucidez, porque é importante ter vontade de marcar muito, mas crucial é ter pernas para marcar sempre.
Marcano: Confesso que a minha reserva em relação ao central espanhol era perceber até que ponto a subida de forma do ano passado era estrutural e não conjuntural. Começo a acreditar que é a primeira. O espanhol é cada vez mais um esteio da defesa portista e a sua tranquilidade é contagiante. Se Marcano está melhor porque tem Filipe ao lado, não é menos verdade que Filipe beneficia imenso de ter Marcano por perto. Dá-me gosto ver o progresso que registou desde que chegou. Passou de "central de recurso que toda a gente espera que nunca precise de jogar" para capitão do FC Porto. Bravo, Iván.
Brahimi: Foi, é, continuará a ser o elemento mais agitador do FC Porto. Pensa sempre o jogo de uma forma diferente dos outros, embora nem sempre melhor. Mas ninguém trata a bola como Brahimi no plantel FC Porto, que quando não tem arrufos com a vida, consegue fazer meio estádio parar de tirar selfies e olhar com atenção para o que está a acontecer no relvado. Há dias em que é mais difícil prever o que vai sair dos pés do argelino do que vai sair do bigode rebuscado de Manuel Machado. E nesses dias, o FC Porto torna-se muito mais complicado de travar. Alimentou o caudal ofensivo enquanto pode, mas está sob uma espécie de plano de proteção anti-fadiga e saiu quando o jogo já não pedia artistas, mas curadores.
Sérgio Conceição: Voltou a fazer uma gestão inteligente, tal como já tinha feito contra o Tondela, embora esta opinião possa não parecer consensual. Sérgio está a levar os seus jogadores à exaustão nos Olival (o plantel teve apenas três folgas em mês e meio) e tem sido mais delicado nos jogos. É sempre um risco abdicar da imprevisibilidade de Brahimi ao intervalo ou da criatividade de Óliver aos 60' (como aconteceu em Tondela), mas se a aposta for ganha, o FC Porto sai a ganhar no longo prazo.
Falta de profundidade: O grande senão do FC Porto 2017/2018. O plantel é curto para uma época tão longa e competitiva. E se isso ainda não se fez sentir é porque Marega tem cumprido, Danilo e Ricardo Pereira ainda cá estão e Aboubakar tem estado de pontaria afinada. Mas lá mais para a frente haverá castigos, lesões, baixas de forma e um modelo de jogo que vai pedir mais rotatividade do que o anterior. Sérgio tem sido mestre na reabilitação, mas é pouco provável que isso seja suficiente. O FC Porto ainda está exposto às agruras de um mercado onde é mais presa do que predador, mas não pode pensar apenas em sobreviver. Terá de se precaver.
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Nice, Mr Drax. Já tinha saudades. Para manter, por favor.
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