sexta-feira, 3 de novembro de 2017

FC Porto 3 x 1 RB Leipzig | Trivelas & Roscas


Sérgio, quando li o XI que escalaste para a partida frente ao Leipzig fiquei mais eurocéptico que os Le Pen. Tal como a esmagadora maioria dos portistas, esperava mais presença e proteína no meio-campo e não um motor a dois tempos a competir com a elevada cilindrada dos alemães, como constava do teu esboço inicial. Sou dos que acha que a saída forçada de Marega foi um mal que veio por bem e corrigiu a tua ideia arrojada mas peregrina de despovoar o centro. Nunca vamos saber realmente o que podia ter acontecido se tivesses jogado mais tempo só com dois médios. Na volta, até ganhavas. Mas desta importante vitória sobra apenas uma certeza: a de que criaste um grupo incrivelmente autoconfiante e mais unido do que um sindicato nos anos 80. Até conseguiste por os habituais artistas a solo a preocuparem-se mais com a banda e menos com a performance individual. Esse é o teu maior mérito, ainda que o teu pensamento táctico permaneça, por vezes, difícil de decifrar aos olhos do cidadão comum sem o nível IV do Curso de Treinador da UEFA. Por isso, não me ligues, sou apenas treinador de chaise lounge, que não ganha uma Champions no FM desde o tempo do Chapuisat. Em suma, sou um completo ignorante. E desde que continues a ganhar, vivo bem com isso.


Transcendência: Um dia, na preparatória, houve um concurso de matemática. A participação era facultativa, mas os meus pais incentivaram-me a entrar. Com o mesmo jeito para os números que Paulo Fonseca tem para nomes e a velocidade de raciocínio de um Pesaresi, lá entrei na olimpíada. Fiquei em último ou perto disso e jurei para nunca mais. Hoje em dia, sou analista financeiro. Reparem que o FC Porto nunca se apresenta como o maior de Portugal. Nem como o mais eclético. A força do FC Porto não vem de cima nem de baixo. Não vem das massas nem das elites. Vem da unidade e da união. Vem do trabalho e da vontade. Da cultura de superação que inspira os seus adeptos a vencer na vida. Durante uma boa parte da partida, os alemães foram mais fortes. Mas nós fomos aquilo que realmente somos: melhores.

Mexicanos: Não fizeram grande espada no arranque, mas a reorganização imprevista do tetris do jogo beneficiou-os. Tecatito cresceu com o relógio, destacando-se sobretudo pelo contributo defensivo, onde foi o grande amigo de Ricardo até sair lesionado. Há dias em que Corona percebe que é tão importante ser irreverente a atacar como civilizado a defender e nesses dias as coisas correm geralmente bem ao FC Porto. Já Herrera sentiu as costas quentes com a entrada de André André, que o empurrou para a frente e lhe permitiu concentrar mais na distribuição e menos na cobertura ao centro. Exibição prática, coroada com um golo e assombrada por um ou outro passe criminoso, tão típicos de um jogador que tanto dá pontos como tira anos de vida.



Ideia inicial: Keita, Kampl e Sabitzer não são médios tugas de 28 anos que passaram ao lado de uma grande carreira, nem volantes brasileiros formados no Buscapé de Itaguaçu e negociados pela Traffic. São três bestinhas com cultura de futebol europeu que daqui a um ano (Keita já está reservado pelo Liverpool) estarão em clubes maiores do que o Leipzig, sem desprimor. Se na Alemenha três médios portistas foram insuficientes, dois no Dragão parecia um hospital em greve, deixando antever um abismo aterrador no miolo, sem se perceber muito bem como é que a equipa iria colar setores só com Herrera e Danilo a comunicarem por telégrafo. A verdade é que nem mesmo com André André retomámos o controlo teórico do jogo, apesar de esta ideia de controlar sem ter a bola ser um princípio do qual Sérgio Conceição não vai abdicar.

Lesões: Além de Corona, Marega e logo na altura mais ingrata. Primeiro, porque nos deixa o ataque no osso em vésperas de novo ciclo exigente. Depois, porque o maliano vivia a melhor fase da carreira e temo que esta paragem de mais ou menos um mês lhe possa tirar algum ímpeto. Lembremo-nos que Marega passou de flop a proscrito, a solução temporária, a gajo-que-até-nem-está-a-jogar-mal-mas-quando-Soares-voltar-o-lugar-é-dele, a indiscutível do FC Porto. É uma pena o músculo ter sucumbido quando mais precisávamos dele. Juro que não sei o que é maior. Se o meu desejo para que volte depressa ou se a surpresa por estar a escrever esta frase.

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Segue-se o Belém a contar para aquilo que mais conta, o campeonato. Como tu bem acabas de dizer, Sérgio, amanhã "é ganhar ou ganhar, não há outra opção".

3 comentários :

  1. Pá, havemos de combinar um almoço, eu, tu e o Silva da tasca

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    Respostas
    1. Havia de ser uma bela borrascada!

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    2. Sério, acontece com alguma frequência almoçarmos pela capital do império. Se te quiseres juntar um dia, manda mail lapisazulebranco@gmail.com

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Comenta com respeito e juízo. Como se estivesses a falar com a tua avó na véspera de Natal.