E o primeiro muro caiu. O Benfica viu esta sexta-feira rejeitada a Providência Cautelar interposta ao FC Porto, para impedir o rival de divulgar os emails que têm exposto o maior e mais complexo esquema de corrupção alguma vez montado no futebol luso. Em termos práticos, o impacto desta vitória é quase residual, embora permita ao FC Porto continuar a desmontar publicamente esta sórdida teia de favores.
Mas esta decisão é muito mais relevante do que aparenta. O Benfica perdeu "em casa" pela primeira vez em muito tempo, num campo que aprendeu a controlar e a inclinar a seu favor. Basta recordar o freio que travou o processo Apito Dourado em Leiria ou, mais recentemente, a placagem que o juiz Jorge Marques Antunes fez às buscas domiciliárias ao Benfica, que podiam ser determinantes para o processo.
Ao apresentar a providência cautelar, o Benfica admitiu a autenticidade dos emails. Arriscou, cedeu uma verdade para ganhar mais tempo para construir uma mentira à volta da qual se vai tentar defender. Tentou matar o mediatismo do caso, precisamente a única coisa que o tem feito sobreviver à inércia da Justiça e à impostura de parte da imprensa. Deu-se mal.
Segundo o acórdão, transcrito pelo Expresso, o Benfica alegou "concorrência desleal” por parte do FC Porto. Um argumento tão idiota que até Homer Simpson nos conseguia defender com sucesso em tribunal. O Benfica e o FC Porto são clubes e os adeptos são o seu património imaterial. Contudo, este raciocínio mostra que na óptica do Benfica os clubes são empresas e os seu adeptos mercadoria. Uma bela demonstração de apreço por quem os sustenta.
Esta ataque de papel configura também outra coisa: que o Departamento Jurídico do Benfica não tem um plano. E não tem um plano porque não sabe para onde se virar. E não sabe para onde se virar porque isso é o que acontece a quem se mete por caminhos apertados.
Em última análise, esta é uma decisão natural e pouco surpreendente. O BenficaGate é muito mais do que um escândalo, é um crime nacional em andamento, um episódio de interesse público que merece denúncia, escrutínio e consequências legais.
O parecer do Tribunal Cível do Porto, tomado por um juiz que teve o condão e a transparência de se assumir portista atempadamente, não é uma vitória do FC Porto sobre o Benfica na Justiça portuguesa. É a primeira vitória do futebol sobre o nacional-benfiquismo.
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