Importa perceber que as implicações deste negócio vão muito para além dos setores envolvidos. Sobretudo porque Altice e NOS são as principais fontes de receita publicitárias dos três clubes grandes em Portugal e da própria Liga, tendo por isso um vínculo muito directo com o futebol português.
A Altice é o principal patrocinador do FC Porto. Em dezembro de 2015, celebrou um acordo de direitos televisivos, publicidade estática, patrocínio nas camisolas e exploração do Porto Canal com o clube por cerca de 457 milhões de euros, sensivelmente o mesmo que vai pagar agora para adquirir a holding que detém a TVI.
Ora, TVI e FC Porto são duas coisas que não casam.
Desde o regresso ao canal, em 2014, de José Eduardo Moniz, um dos atuais vice-presidentes do Benfica, que a estação de Queluz de Baixo tem adotado uma postura pró-Benfica cada vez mais evidente.
Apesar de ter voltado "apenas" como consultor da área da ficção e entretenimento, ou seja, sem funções executivas, é inegável o peso e a influência de Moniz na estrutura de um canal que foi "seu" durante 11 anos (1998-2009).
O plano foi bem-sucedido. Moniz e o Benfica transformaram a TVI num veículo insuspeito da máquina de propaganda nacional-benfiquista, a mesma que hoje branqueia a todo o custo o maior escândalo de corrupção do futebol português.
Basta um breve olhar ao rooster actual dos programas desportivos "independentes" da TVI24 para constatar a precisão cirúrgica das contratações com a recomendação de Moniz.
Desde o convite ao incendiário Pedro Guerra -- agora exposto como uma das faces mais ativas do Apito Divino --, à ascensão de tipos como Rui Pedro Braz ou Luís Aguilar, os perigosos "independentes" que actuam sob o signo da cartilha encarnada, passando pelas manifestações pontuais de antiportismo de Pedro Pinto, um dos principais responsáveis pela informação do canal, a TVI tem demonstrado uma aproximação clara ao clube de Carnide.
Desde logo porque a fusão TVI/MEO abre uma nova corrida entre os operadores de telecomunicações às produtoras de conteúdos, pelo que não será nenhuma surpresa se nos próximos meses a NOS responder com uma oferta sobre a Impresa. Ou sobre a Cofina.
Para onde caminha a independência da comunicação social no meio disto tudo? E em que pé fica o valor comercial dos clubes perante este cenário?
É difícil prever o que vai acontecer a partir de agora. A única certeza é que a rivalidade deixou de ser meramente clubística e entrou oficialmente no sempre nubloso domínio ultracorporativo.
E não me lembro de nenhum emblema desportivo que alguma vez tenha saído a ganhar com as guerras de concorrência do grande capital. Nem de nenhum campeonato.
Sem dúvida que poderá ser um movimento muito importante, crucial até, na sobrevivência do FCPorto no meio dos media com repercussões no plano desportivo e até no tema quente atual que são os "emails".
ResponderEliminarA questão é se a SAD do Porto vai chamar a atenção à Altice para os parasitas que (ainda) habitam no Grupo Media Capital e para o impacto negativo que eles têm conseguido dar.
Santos