sábado, 2 de março de 2019

As contas do FC Porto | R&C 1S/2018


Em dia de clássico, apresento abaixo as linhas gerais das contas do primeiro semestre 2018/2019 do FC Porto. Os números que são evidentes à leitura rápida e aqueles que pedem uma interpretação mais profunda. Vou fazê-lo através de sistema de tópicos porque acredito ser a forma menos enfadonha e mais clara de traduzir o economês para toda a gente.


Regresso ao lucro.

Embora não seja o aspecto mais importante deste relatório, o regresso ao lucro é uma nota de destaque. Depois de três anos e meio no vermelho, o FC Porto apresenta o primeiro semestre a verde, com um saldo positivo de 7,2 milhões de euros.

A que se deve este resultado?

UEFA. Em primeiro lugar, uma conjugação de dois factores felizes: um onde tivemos sorte e outro onde fizemos a nossa própria sorte. Este ano, a UEFA decidiu aumentar significativamente os prémios distribuídos às equipas na Champions League. Uma decisão que coincidiu com uma das melhores prestações de sempre do FC Porto na prova, com 5 vitórias e um empate. Contas feitas, entre o apuramento directo para a Champions em 2017/18 e a performance na fase de grupos em 2018/19, o FC Porto somou quase 61 milhões de euros, contra aos 22,5 milhões do ano passado. É um aumento brutal de 170% e que foi decisivo para não passarmos um novo semestre com as contas a negativo. Neste montante, não está contabilizado o prémio por termos passado aos oitavos (9,5 milhões de euros). Esse prémio fica reservado para as contas do segundo semestre.

Altice. Em segundo lugar, esta época começou a vigorar o contrato de cedência de direitos de televisão que o FC Porto assinou com a Altice, que dá a exclusividade dos jogos do clube à Meo. Por isso, nesta rubrica, as receitas quase duplicaram. É sabido que o FC Porto tem adiantado regularmente as receitas deste contrato de 457 milhões de euros a 12 anos. O relatório mais recente menciona um adiantamento das receitas televisivas de 7 milhões de euros durante este semestre, que pode explicar a duplicação dos valores nesta rubrica.

Nas restantes rubricas, o desempenho operacional do FC Porto foi misto. Em traços gerais, vendeu menos bilhetes, mas mais camisolas. Os proveitos desceram na pré-época porque não houve "Mini-Champions do México" como no ano passado e as receitas com publicidade também diminuíram.

Custos aumentam.

A massa salarial do FC Porto continua a aumentar, contrariando o que foi prometido pelo CFO Fernando Gomes. Os prémios de campeão já estavam contabilizados no exercício do semestre passado, pelo que depreendo que alguns jogadores (e equipa técnica) tinham cláusulas automáticas de aumento de ordenado se fossem campeões. Em suma, em dezembro de 2018, tínhamos uma folha salarial de 44,5 milhões de euros. E aqui não está contabilizado o salário de Pepe, que chegou em Janeiro. A minha previsão é de que esta rubrica vai agravar no segundo semestre.

SAD. A remuneração dos elementos da SAD mais do que duplicou, passando de 1 milhão de euros em 2017 para 2,5 milhões em 2018. É óbvio que os prémios da SAD replicam o comportamento da equipa em campo, que até se sagrou campeã, mas ainda assim parece-me um montante demasiado acentuado para um clube que vive há alguns anos em contenção orçamental.

Vendas de jogadores. Continuamos a ser um clube dependente das vendas. Essa é uma realidade que nunca irá mudar seja qual for o clube em Portugal, nem mesmo para os que tentam vender a ideia oposta. Esta rubrica teve menos impacto nas contas este semestre porque não efetuamos nenhuma venda de peso depois de 30 de junho de 2018.

Então mas e o Dalot e o Ricardo...? Essas vendas entraram no exercício anterior. Após essa data, o FC Porto somou cerca de 12 milhões de euros com as vendas de Layún (4), Gonçalo Paciência (3) e Quintero (3,7) e João Carlos Teixeira (1,3). Neste exercício, foi também contabilizada a venda de Martins Indi ao Stoke em 2017 por 7,7 milhões. Imagino que por razões contabilísticas relacionadas com o FPF da UEFA.

Mais-valias. A rubrica para a qual a UEFA no âmbito do Fair-Play Financeiro e que é crucial para sairmos do castigo europeu não apresentou grandes alterações. Somámos 6,4 milhões em mais-valias com as vendas supracitadas, contra 5,5 milhões o ano passado. A venda de Gonçalo Paciência foi crucial aqui, porque, sendo da cantera, foi o jogador que permitiu gerar o melhor rácio de mais-valia. Este é um indicador de que o FC Porto pode continuar a apostar na alienação de activos da formação para sair da alçada da UEFA.

Valor do plantel. O valor total do plantel ronda os 83 milhões de euros, sensivelmente o mesmo do ano passado.

Balanço. O passivo do FC Porto caiu quase 67 milhões de euros, graças à queda dos créditos que contraímos na banca, mas ainda continua brutalmente elevado (400 milhões de euros) para a realidade portuguesa. O activo também caiu 60 milhões de euros, sobretudo porque temos menos dinheiro a receber de vendas de jogadores. Tudo isso, deixa-nos com capitais próprios negativos de cerca de 30 milhões de euros, uma situação que urge inverter.

Outros factos relvantes.

Éder Militão custou cerca de 8,5 milhões de euros ao FC Porto.

O FC Porto alienou 5% do passe de Marega, uma cedência eventualmente relacionada com a renovação do jogador. A SAD detém agora 95% do passe.

Segundo o relatório, Ewerton está emprestado ao Portimonense até 2019, não vendido. O FC Porto detém 50% do passe do jogador. Quem tinha essa dúvida, fica esclarecido.

Os custos com comissões de transações mantiveram-se praticamente estáveis face ao trimestre anterior, nos 4,6 milhões de euros.

O R&C também anuncia que o julgamento do processo de divulgação dos emails, apresentado pelo Benfica contra Francisco J. Marques, arranca na quinta-feira, dia 7.

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