sábado, 10 de março de 2018

A estratégia do ruído


A notícia do Expresso de hoje vem confirmar a suspeita que gravita há muito sobre o universo benfiquista.

Não foi coincidência a mudança de estratégia por parte do Ministério da Propaganda lampiânica nas últimas semanas. O silêncio ensurdecedor deu lugar a uma overdose de ruído, que viajou desde as suspeitas sobre o Estoril x FC Porto ao novo treinador do Sporting. O objectivo? Tentar abafar o impacto iminente da detenção de Paulo Gonçalves.

Alguém acredita que um clube que condiciona e manipula dezenas de organismos nacionais, de tribunais a televisões, e que gere uma rede de toupeiras com acesso privilegiado a informação judicial, não soube antecipadamente da operação de detenção?

A injeção maciça de contrainformação promovida pelo Benfica não é nova. É impossível ignorar os paralelismos entre a denúncia anónima do Estoril x FC Porto e o alegado jantar entre Pinto da Costa e o árbitro Björn Kuipers, em 2011, uma fantasia que também foi alvo de denúncia fantasma no DIAP e ampliada pelos jornais, sem qualquer prova factual que a consubstanciasse.

O modus operandi é o mesmo. O vírus é plantado nas autoridades por alguém ligado ao Benfica e disseminado publicamente com a ajuda das habituais caixas de ressonância encarnada, como o jornal Abola, que lhe dá uma roupagem legítima e o coloca no topo da agenda pública. A história de suborno no Estoril x Porto é tão artificial que quem a noticiou sentiu necessidade de se justificar. Por fim, os opinion makers avençados e o resto dos peões pro-bono da propaganda encarnada levam ao limite a velha máxima de Joseph Goebbels, repetindo a mentira mil vezes até ela se tornar verdade.

Vejamos a denúncia do jogo do FC Porto. Uma acusação com fundações de papel, fruto de extrapolações altamente sugestionadas, que podem ser aplicadas a qualquer equipa em qualquer momento do campeonato. É a interpretação low cost dos factos. O sofisma do carro com vidros fumados, que se tem vidros fumados é porque esconde alguma coisa.

Nem o Estoril foi a única equipa portuguesa a receber pagamentos do FC Porto naquela altura, nem o FC Porto é o único clube a pagar dívidas a equipas da mesma liga em datas próximas dos jogos. Mas corrupção no Porto era a história que os adeptos do Benfica queriam ouvir, sobretudo num momento como este.

Enquanto foi vivo, o caso foi raspado até ao osso nas távolas redondas da comunicação social, levando o FC Porto a fazer o que na Luz ninguém faz: explicar com clareza e transparência, por via oficial, as operações financeiras que manteve com o Estoril.

O propósito final da propaganda encarnada foi alcançado: criar uma cortina de fumo para o que aí vinha. As visitas de Luís Filipe Vieira ao Campus da Justiça no âmbito da Operação Lex e a detenção iminente de Paulo Gonçalves. Pelo meio, atingir o mérito e a estabilidade do FC Porto foi só um bónus, nunca a principal directriz.

A detenção de Paulo Gonçalves só apanhou de surpresa os rivais. Porque na Luz continua a viver-se dez anos à frente. Das consequências, sobretudo.

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