Nem tudo foi brilhante. O FC Porto deixou alguns sinais positivos, outros preocupantes. Pela forma como regressou dos balneários após o intervalo, este esquadrão -- sobretudo o seu almirante, André André, -- mereceu inteiramente os três pontos de um clássico suado, quente, competitivo e resolvido pela raça dos seus protagonistas. A segunda parte teve muito mais azul do que vermelho, mas a primeira, reconheçamos, teve menos FC Porto do que seria desejável. O bloco central portista, que tem quatro homens-chave para três posições, voltou a mostrar uma coesão e presença magníficas, onde só fica a faltar aquela pitada de sal que um elemento com outra craveira artística daria ao colectivo. Um 10 faz falta, digam o que disserem. Mas não é menos verdade que este meio-campo, assim como é, será determinante pela sua característica metamórfica, que possibilita um Dragão com várias faces distintas.
Hoje escolhemos ser um Porto de raça e combate. Era a combinação certa para dar tripla. O segredo foi André André. Mas Imbula, sem deslumbrar, mostrou que os tratores também ajudam a rebocar. E Rúben jogou sem medo de ser aquilo que é: um predestinado.
Eis as notas do primeiro clássico da temporada:
MAIS

Aboubakar: O camaronês continua a barrar muita manteiga. Está a crescer tão depressa como um Labrador e mostra, a cada partida que soma, o material de que é feito. É muito mais do que um ponta-de-lança. Hoje foi novamente o quarto médio da equipa, prejudicando-se a si próprio quando a bola pingava na área e Aboubakar não estava lá. Precisa de alguém atrás que lhe dê a liberdade total para dar água pela barba aos centrais. Falhou um golo cantado, mas antes dele Jackson também o fazia e antes de Jackson, Falcao também o fazia. Quem não se lembra daquela bola à trave do colombiano no clássico do ano passado? Acontece e não retira qualquer brilho a mais um jogo de enorme capacidade de luta deste jogador. Com ele em campo, o FC Porto joga com doze. E como futebol não é só futebol, é um orgulho ver um gajo que após levar uma traulitada na área para penalty, não se resigna ao facilitismo da falta, levanta-se e ainda tenta o golo. E logo a seguir cumprimenta o moribundo GR adversário num gesto que congelou por segundos a rivalidade Norte/Sul. Aboubakar é digno deste emblema. Pela qualidade e pelo fair-play. Porque para o camaronês, o que interessa é jogar à bola, como naqueles tempos em que corria descalço nas ruas de Yaoundé, com o cheiro a terra quente de África. Futebolista de elite. Homem com H.
Maxi: Maxi, a esta hora és provavelmente o maior porco javardo que alguma vez passou no futebol português. Há até quem te deseje uma lesão para a vida ou a morte por impalamento. E sabes porquê? Porque estás num país de almas tristes. Porque a nomenclatura varia consoante a lente. Porque raça em azul escreve-se javardice a vermelho. Porque dureza em azul lê-se maldade a encarnado. Tu até podes ser o mesmo Maxi de sempre. Impetuoso, raçudo, gattusico, rijo, às vezes exageradamente agressivo em prol das cores que defendes e, acima de tudo, um escudo humano do teu grupo. Mas só foste bom enquanto foste vermelho. Sob o manto
![]() |
«Os jogadores do Benfica defendem a camisola deles e eu a minha» |
Corona: Não é um + pela exibição, mas pela circunstância. Tendo em conta que jogou o primeiro clássico pelo FC Porto logo no segundo jogo a titular, com apenas três semanas de casa e, durante 25 minutos, fora da sua zona de conforto, devo dizer que não se inibiu como previa, perante a carga psicológica que a partida impunha. Na primeira parte, esteve melhor do que o colega da outra ala, mas terá sido o primeiro a ser sacrificado na segunda pelo facto de Brahimi estar mais identificado com os processos de circulação da equipa e porque Varela casa muito melhor com Maxi, na direita do ataque portista. Tem uma qualidade técnica magistral e quando pega na bola torna-se difícil de o parar. Foi absorvido pela dormência da equipa na primeira parte. No entanto, apresentou bons pormenores e na etapa complementar acompanhou o ímpeto do grupo no assalto ao palácio do Calígula, até ao momento da sua saída. Com este jogador, o FC Porto ganhou dois abre-latas de peso em cada ala. E quando ambos -- Brahimi e Corona -- carburarem a mil, as asas do FC Porto vão ganhar outro dinamismo.
Alterações: É provável que este ponto figure nas notas negativas da uma parte dos meus colegas da Bluegosfera. Especulo eu, dada a reação do estádio às substituições dos dragões. Contudo, Lopetegui foi inteligente nas duas primeiras mexidas. A última, mais controversa, talvez pudesse ter sido fortemente contestada se o FC Porto não vencesse. Vamos por partes. A entrada de Varela era expectável e necessária, não só pelo desgate a que os extremos estavam sujeitos, como pelo facto de o capariquense ser o jogador do plantel (a par de Maxi) com mais sangue circulado em clássicos. A título de curiosidade, era também o elemento do plantel com mais golos marcados ao Benfica. E, por norma, costuma ter bons desempenhos nos encontros contra o rival. Embora não tenha tido uma entrada auspiciosa, é da sua astúcia que nasce a vitória. Rúben por Danilo foi jogar areia na massa. Resultou, deu consistência e a equipa, que já não precisava de tanta circulação de bola mas de ganhar as sobras de um jogo cada vez mais directo, instalou-se em definitivo no meio campo adversário. Com Danilo em campo, o Benfica não voltou a rematar. Já a troca de Aboubakar por Osvaldo pode ser interpretada como pouco ambiciosa. No entanto, Lopetegui não estava com isso a querer jogar para o empate, mas a preservar a frescura no centro, evitando assim tocar no principal motor da avalanche portista da segunda parte: o meio-campo. Compreensível.
MENOS

Brahimi: Brahimi não fez um mau jogo por assim dizer, mas esteve demasiado previsível nas suas ações, só se conseguindo soltar a espaços, quando a equipa já estava instalada no reduto encarnado. Continua a individualizar em demasia, quando até tem em Layún um bom complemento atacante. O argelino ainda não responde com frequências às diagonais propostas pelo mexicano. Natural, por um lado, pela falta de rotinas com o companheiro, mas um processo a consolidar o mais cedo possível.
Bolas paradas: Continuam a ser uma nulidade. Existem evidências de jogadas de laboratório, como o lance em que Layún desmarca Brahimi, com um passe de rutura que deixou o argelino praticamente isolado. Porém, é nas bolas despejadas para a área que o FC Porto teima em não acertar o passo. Se, no ano passado, 50% do problema se devia aos frouxos cruzamentos de Quaresma na direita ou às charutadas de Tello na esquerda, este ano, os centros até têm sido bem executados pelos novos protagonistas mexicanos -- Layún e Corona. O problema é que a correspodência raramente encontra destinatário, como sucedeu hoje, e é pouco provável que um canto termine em remate à baliza adversária. O FC Porto tem jogadores altos. Check. O FC Porto tem músculo. Check. O FC Porto tem bons cabeceadores. Check. O que falha? Organização posicional ofensiva, eventualmente. Um aspecto que Lopetegui tem rapidamente de corrigir.


@
Ganhámos o clássico. É o que realmente importa.
Quatro pontos a mais do que o mais forte candidato ao título e um "quinto" com a vantagem à maior no confronto directo, até ver.
Entretanto, sabe Deus que justificação vou arranjar para dizer à maria que virei a mini-mesa da sala ao contrário com um chuto. Parafraseando um grande amigo meu, quanto mais velho estou, mais criança estou. Estou tão fodido. Mas tão contente.
Continuamos em agradável sintonia nas análises.
ResponderEliminarBebamos por isso ou pela doce vitória. Ou por ambas!
Quando for ao Dragão, temos de combinar uma tarde de petiscada e copofonia!
EliminarAbraço!
Grande análise Drax.
ResponderEliminarGrande abraço.
Saudações Portistas.
Profundamente agradecido, caro Rui.
EliminarForte abraço.