O timbre dos algarismos ecoa repetidamente na mente.
Carregam o poder de me despertar da letargia em que me encontro.
Faça chuva, vento ou uma improvável tempestade de areia à George Milller, sorrio.
Nada é eterno. Nem o meu FC Porto. Extinguir-se-á um dia, mesmo que resista até ao fim dos tempos, quando o sol desistir de pulsar.
Afugento estes demónios existenciais de pensar no futuro após o futuro. Foco-me no presente.
Recupero uma antologia antiga da prateleira. Assenta-lhe bem a poeira. Confere-lhe peso. Quase me sinto indigno de tirar aquela capa empedernida do repouso secular.
1893, lê-se.
O ano em que se "apurou um grupo rijo de jogadores para medir-se contra os clubmen de Lisboa".
Raça que se perpetuaria no tempo, afrontando a tão humana mortalidade.
Invade-me uma profusão de sentimentos. Ali entre o orgulho e a nostalgia. Recordo mil golos, vitórias para lá do que é possível contar.
Resgato fotogramas encravados na memória sideral. Onde nem licença tenho para entrar voluntariamente.
Deixo o subconsciente apoderar-se de mim e gozar aquele momento. Folheio páginas que sei de cor, que leio antes de os meus olhos abraçarem as palavras.
É um livro velho, comprado num alfarrabista septuagenário ou esquecido no meio de uma herança qualquer.
São as minhas Teses de Abril. A minha Bíblia. O meu Conto de Duas Cidades, a minha e a do meu coração.
Cravejado de defeitos e feitios difíceis. Estórias mal contadas, histórias bem adornadas. Sucessos, acima de tudo, sucessos. A quintessência do meu FC Porto desdobrada em signos, palavras e epígrafes que marcaram o seu passado.
Deixo-me envolver.
Rendo-me a um passado de honra e de luta que pagava para viver. Sinto o aroma do couro gasto que não existe. Na verdade, é mais uma armadilha do cérebro. Amante de uma cultura tão própria.
Nobre, diferente, invicta. Acima de tudo, nossa. Entrego-me ao sentimento de pertença e a tudo o que ele encerra.
Recordo o anteontem, o ontem e prenuncio o amanhã. Penso no quanto me alegras, irritas e no quanto anseio ver-te de novo. Uma e outra vez.
Podes fazer-me sofrer como nunca.
Mas eu vou estar cá sempre.
Parabéns.
Parabéns!
ResponderEliminarDislexia Pura.
EliminarObrigado. :)
Fui averiguar. Tem nome esta estranha patologia: discalculia. A dislexia dos números.
EliminarAbraço, caro.
Há nacos que pedem um tinto de excepção. Como este da tua prosa. Parabéns.
ResponderEliminarE nós também: Parabéns!
Venha daí essa reserva. Mas traz dois copos, que há um brinde por fazer.
EliminarForte abraço, Silva!
Parabéns a todos nós.
ResponderEliminarfantástica prosa, 'drax'.
que a exibição da nossa equipa do coração, hoje, seja tão sublime como as tuas palavras. seria a melhor forma de te parabenizarem por (mais) um texto soberbo. e de nos alegrarem a semana, também ;)
abr@ço forte
Miguel | Tomo III
As tuas palavras são sempre recebidas com a maior honra.
EliminarSão vocês, os poucos mas muito, muito bons, que me lêem, o combustível deste projecto.
És enorme. Tu e todos vocês.
Que o nosso dragão nos ofereça a prenda que todos desejamos esta noite. Nem peço uma vitória, mas uma exibição de intenso fogo azul, daquelas que deixa o adversário a rezar para não voltar a meter cá os pés tão cedo.
Forte abraço, meu caro amigo.