domingo, 23 de agosto de 2015

CSM 1 x 1 FC Porto: A barreira dos Barreiros

É oficial. Precisamos de um exorcista ou de um Vasco da Gama qualquer para abater de vez este fantasma que aterroriza o FC Porto nos Barreiros e dobrar finalmente este cabrão deste Adamastor do Atlântico que nos rogaram desde que o Kléber veio para cá.

Mas não só.

Ir à Madeira é sempre um pincel do tamanho da Torre das Antas. Épocas houve em que traçava mais unhas no pre-match de um Marítimo x FC Porto do que nos 90 minutos de uma deslocação a Alvalade. Tendo em conta as intempéries que nos fustigaram na ilha na temporada passada, a que se somava o facto de não vencermos no reduto do Marítimo há mais de três anos, esta partida possuía um cariz reforçado. Era fundamental abortar o borrego e impedir que os Barreiros se transformassem na nova Reboleira do FC Porto, mas ainda mais essencial excomungar o cisma que se criou na equipa azul-e-branca de jogar neste estádio com a displicência de um cirurgião plástico que emborca quatro amarelinhas antes de ir operar uma penca.

Infelizmente, voltámos a repetir tudo. Não só ajudamos a parir o ovino como mantivemos uma letargia atípica num campeão. Falhámos [mais uma vez] um dos principais checkpoints deste campeonato, diria talvez o mais importante a seguir aos quatro clássicos. Pior do que isso: não consigo perceber se perdemos dois pontos ou ganhámos um. A única certeza que tenho é de que perpetuámos o monstro.



MAIS
Brahimi: No deserto de ideias ofensivas que é este FC Porto, o extremo argelino tem dias em que é uma banheira de gin com gelo até às bordas. É dos poucos jogadores da equipa que sabe sair com bola no pé e desequilibrar a defesa contrária em drible. Falta saber definir melhor o tempo de passe. Quando acertar essa agulha, será um top ten da Europa na sua posição. Hoje, foi um dos que tentou tirar a equipa no areal. E nunca se esquivou de fazer marcha-atrás. Imagem que fica na retina: um lance na primeira parte onde, logo após fazer uma falta no lado direito do ataque, corre desalmadamente para o flanco esquerdo para ajudar Cissokho na defesa.

Marcano: A lucidez e tranquilidade que Marcano tem mostrado no centro da defesa portista é assinalável. Marcar um armário como Marega não é propriamente fácil, mas o espanhol cumpriu bem esse papel, concedendo pouco espaço ao maliano e estando sempre disponível para dobrar os adiantamentos de Maicon ou as investidas de Cissokho no ataque. Esteve mais assertivo do que o colega do lado e mostrou que, até ver, é o único central do FC Porto com as garras cravadas no onze.

Aboubakar: Correu, baixou, tabelou, lutou, esperneou, iniciou a jogada do primeiro golo com um passe fantástico para Brahimi, ganhou um livre "daqueles", etc, etc. Jogou bem o rapaz. Sim, também arranquei cabelos naquele lance em que o camaronês tinha tudo para bater Salin e... acertou no Salin. Mas de qualquer modo, foi dos poucos elementos lúcidos desta equipa, tentando sempre marcar presença na área e sendo um ponto de referência no último terço. Voltou a fazer uma bela assistência que Varela desperdiçou. Não admira que tenha saído muito desgastado perto do final. Afinal, jogou novamente em mais do que uma posição...


MENOS
Herrera: Completamente fora do barco. O mexicano está com um rácio embaraçoso no capítulo do passe curto, não acertou um passe longo, teve uma daquelas receções à Fatih Sonkaya e ainda ofereceu um presente envenenado a Casillas. Tudo somado faz o golo que marcou parecer uma positiva a Educação Física numa pauta corrida a negas. Até compreendi a sua titularidade no dragão na jornada inaugural. Mas não percebo porque Lopetegui decide malhar em ferro frio, quando o que Herrera mais deve desejar neste momento é afastar-se da pressão esmagadora que está a evidenciar e ir passar uma temporada ao conforto do banco.

Lopetegui: Herrera no onze foi um tiro no pé. O técnico portista assumiu o risco e voltou a colocar o jogador que dá mais verticalidade ao jogo do FC Porto. No entanto, o problema dos dragões não é a falta de verticalidade. E a menos que Herrera jogue como Pogba nos treinos, a opção de insistir no mexicano havendo boas alternativas no banco começa a ser questionável. No capítulo colectivo, a segunda parte da equipa foi uma recordação dos piores momentos da temporada passada. Noutros tempos, "as outras equipas vão levar massacres que nem respiram". Agora, tenho de confessar uma certa apreensão com a falta de ímpeto de um grupo que pretende, supostamente, vencer todos os jogos. Mesmo ao intervalo, o FC Porto apresentava um total de meros 3 remates em 17 ataques, o que para uma equipa que se viu a perder desde o minuto 5' é sintomático. E quando Casillas é responsável por dois dos lançamentos de ruptura mais perigosos dos dragões... através de pontapés de baliza, também é sintómatico. Por último, o FC Porto continua sem virar resultados com Lopetegui, uma demonstração da incapacidade anímica da equipa em lidar com a adversidade. Trabalho de (e para) treinador rever.

Cissokho: Erro gritante no golo do Marítimo. Foi este tipo de displicência que lhe valeu uma dedicatória dos adeptos do Liverpool. Apesar da falha e de ter mostrado que ainda é, por vezes, um corpo estranho nesta equipa de Lopetegui, teve alguns momentos positivos, que intercalou com outras tantas falhas de concentração. Não foi por ele que deixámos dois pontos nos Barreiros, mas tivesse sido mais lesto naquele minuto fatídico e talvez a história da partida fosse outra. Edgar Costa deu-lhe trabalho. Demasiado até. Vai apanhar melhor e mais rápido na Liga. Não tenho dúvidas de que é três vezes superior a Ángel em todos os aspectos, mas continuo receoso de que seja inferior àquilo que o FC Porto exige.


Momento: Minuto 94'. Cabeçada de Maxi à trave e ao poste e sabe Deus mais o quê. Uma bola que o Diabo amorteceu em cima da linha e ofereceu vilmente ao adversário. Se não há intervenção sobrenatural nas deslocações do FC Porto à ilha, não sei como explicar certos fenómenos. Como o de Salin transcender-se quando vê azul à frente. Ou o de Edgar Costa ter os nervos do lábio localizados no antebraço.


Pormenor: Um dos motivos pelos quais não me pronunciei sobre as bolas paradas na semana passada foi por considerar um só jogo demasiado prematuro para extrapolações sólidas. O encontro desta noite confirmou as minhas suspeitas. As set-pieces continuam a ser um problema... para nós. Dos 11 ou 12 cantos a nosso favor, cerca de 70% não passaram do primeiro poste, em centros que não subiram acima da cintura dos jogadores do Marítimo. A inépcia neste tipo de movimentos chega a ser hedionda e hoje rendeu mais uns quantos contra-ataques ao adversário. 

@

Primeiro revés da época. Se não é mentira que o FC Porto está em reconstrução após uma razia completa ao onze base, não é menos verdade que o Marítimo iniciou este jogo com apenas cinco titulares da época passada. Ou seja, mais um do que o FC Porto. E o melhor jogador do Marítimo 2014/15 até jogou pelo FC Porto 2015/16. O que é válido para uns, vale também para outros. 

Começa a desenhar-se uma outra tendência desconfortante no FC Porto: solidarizar-se com os tropeções dos rivais. Foi assim o ano passado, começou a ser assim este ano. Dia feliz para a Vicra e para Cofina. Amanhã, vão bater-se recordes de vendas.

4 comentários :

  1. Desculpa para hoje não estou para maldições. Ao raio q'osparta!
    Falhamos na abordagem e no acto. Ponto.

    E os cantos, desde tempos imemoriais que é assim. Talvez aqui acredite em maldição, sei lá...

    http://doportocomamor.blogspot.pt/

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    1. Percebo-te, caro Lápis. Podíamos e devíamos ter feito mais, sobretudo para afastar fantasmas da Madeira. É que ainda lá vamos voltar pelo menos mais duas vezes e isso vai pesar na psique da equipa. Levantar a cabeça e melhorar no futuro.

      Forte abraço.

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  2. @ drax

    uma sugestão:
    considera a hipótese de activares a versão deste blogue para telemóvel.
    podes fazê-lo (e caso não saibas como) na plataforma 'blogger', em "modelo > telemóvel". depois, clicas na roda dentada e selecciona «Sim. Mostrar o modelo para dispositivos móveis em dispositivos móveis». posteriormente, escolhe o modelo que desejas; a minha sugestão é o «simples».

    g«faço esta sugestão pelo facto de demorar pouco mais de três minutos a carregar o teu blogue via 'smartphone'. e de ser demorado navegar no mesmo. eu não me importo, mas pode haver quem se aborreça de esperar "tanto tempo" e, por isso, estares a perder visitantes.

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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    1. !!

      mil verdades, Miguel!

      Muito obrigado pela sugestão, já entretanto seguida e aplicada aqui ao tasco.

      Confesso que a versão smartphone não estava 'on' porque embora já lá tenha ido, não percebi bem o funcionamento da coisa. Acabei por desactivar aquilo, porque com o esquema de cores do blog na página web, na versão para telemóveis não se via rigorosamente nada.

      Nem percebi que dava para escolher o interface "simples", pensava que estávamos forçados a manter o mesmo esquema da web.

      É o que dá ser infoexcluído em doses industriais. O verdadeiro Android sou eu, ahah.

      Uma vez mais, muito obrigado pela sugestão e por me teres resolvido este problema!

      Abraço!

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