Isto porque o FC Porto perdeu-se no mapa pouco depois do primeiro golo. Não fosse o foguete de sinalização de Maicon e entrada de Herrera -- que ontem foi bússola -- o desnorte poderia ter saído caro. Para um corpo que acaba de sair de sete transplantes, é natural que necessite de tempo para absorver os novos orgãos. Julgo que ninguém poderia esperar uma recuperação rápida sem sobressaltos. Mas é importante que o treinador acelere a afinação de processos e invista sobretudo na articulação da máquina, porque o gongo da pré-época já soou há muito.
Eis as notas:
MAIS

Marcano/Maicon: O primeiro porque é certinho como o destino. O segundo porque merece o destaque muito para além do golo que marcou. É que Maicon parece ter regressado este ano com outra precisão na chuteira. Se tivesse de apostar, diria que o brasileiro abdicou das férias em Cancún para tirar um curso intensivo de "Como Meter a Bola Onde Queres" com Rémi Gaillard. Ao cabo de três jogos a sério (+ uns quantos da pré-época), o empirismo já permite uma conclusão firme: Maicon melhorou -- e de que maneira -- o passe longo. As suas charutadas já não são um problema para o sector da restauração do Dolce Vita, mas -- finalmente -- para as defesas adversárias. Continuo a achar que usa e abusa deste recurso, mas pelo menos tem-no feito com qualidade, acertando muito mais do que falha. Depois, claro está: o golo. Mais que não seja, foi a injeção de calmantes de que a equipa precisava e ajudou o FC Porto a acertar o passo. Mais dessas, por favor.
Danilo: Sei que esta escolha não é consensual e talvez o jogo de ontem pedisse mais Rúben e menos Danilo. Mas para quem chegou este ano, com a pesada herança escrita por Casemiro e Fernando, Danilo tem mostrado uma consistência defensiva semelhante a uma tijela de Nestum com seis dias. É muito difícil fazer passar a bola por ele. Não tivesse sido tão prejudicado por um Imbula ainda em adaptação e pela liberdade total com que Brahimi assumiu a função de organizador, talvez tivesse sobressaído mais no encontro de ontem. Contudo, e para mim, Danilo é daqueles que brilha na sombra, sem fazer muito barulho. Precisa de melhorar a saída de bola, um capítulo que se ganhará com rotina, tempo e confiança.
Herrera: Se nos primeiros dois jogos da temporada foi a face da desorientação, ontem foi a bússola que -- juntamente com André André -- deu alguma organização ao caos. Entrou sereno e emprestou o toque de equilíbrio por que a equipa tanto ansiava. Ainda está longe de ser aquele box-to-box pendular que procuramos, mas passou muito por ele a estabilidade da linha média. Ainda semi-marcou um golo após fora-de-jogo que só o fiscal-de-linha viu. Mas era expectável que Duarte & Companhia tentassem intrujar o FC Porto. Aqui, nada de novo.
MENOS

Varela/Tello: O portugês entrou mal, falhou praticamente todos os passes e pareceu sempre demasiado lento quer no raciocínio quer na execução. Jogou 39 minutos, não fez nada digno de registo e foi bem sacrificado. O espanhol prolonga a saga dos duelos perdidos e continua sem conseguir ganhar no 1x1 a um eucalipto. Dá ideia que só tem uma finta no cardápio técnico, assemelhando-se a uma locomotiva cega e desgovernada que espera pelo melhor quando encara uma parede de frente. Este dragão, sem Brahimi, não tem asas. A solução pode passar por Corona, mas convém recordar que o mexicano ainda é um protótipo de jogador. E de promessas está o futebol cheio.
Tribunal: Ter um público apelidado de "Tribunal" não pode ser apenas prosápia, tem de ser acima de tudo responsabilidade. Lamento mas assumo o que vou dizer a seguir: a maioria dos juízes deste tribunal parecem os mesmos dos sumaríssimos do Estado Novo. Se a equipa falha um passe, assobia-se; Se o Brahimi individualiza, assobia-se; se o Imbula perde a bola, assobia-se; se o Marcano veste o colete ao contrário, assobia-se; se o Indi dá um peido, assobia-se. Execrável. Como o Miguel Lima tão bem cunhou, esta "massa assobiativa" tem em resultados como o da Madeira aquilo que semeia. Curto exemplo: se o meu patrão me der uma reprimenda em privado, depois de um erro cometido no emprego, eu absorvo, aceito e tento melhorar. Se o meu patrão me partir a cabeça a cada cinco minutos por tudo e por nada, à frente dos colegas, a minha única vontade é de lhe enfiar um soco no meio dos cornos. Julguem-se a vocês próprios, juízes, e escolham em que pé querem estar.


Jogo sem sal, mas que vale pela vitória, pelos três pontos e pela chegada ao 1º lugar da Liga, a par de Arouca e talvez Sporting, antes da primeira paragem das competições para selecções a até ao fecho dos mercados europeus.
Aproveitar para reflectir.
A equipa e o tribunal.
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Nota final: Fiquei sem computador, daí o atraso na publicação dos últimos textos. Tentarei resolver a situação com a maior br€vidad€ possível.