sexta-feira, 20 de outubro de 2017

RB Leipzig 3 x 2 FC Porto | Trivelas & Roscas


Não adianta andar a dar voltas ao peixe no prato, porque vamos ter de o comer. O FC Porto jogou mal e perdeu bem. Jogou mal porque Sérgio Conceição se colocou a jeito, invocando uma opção técnica bizarra que ou esconde um conflito interno ou expõe a jesuíta presunção de cunhar os grandes jogos com notas de autor. Perdeu bem porque o RB Leipzig foi superior em quase toda a linha. A margem mínima é mesmo o único conforto de um jogo que descambou cedo e podia ter terminado pior. A derrota em Leipzig nada compromete, mas intrinca as contas de um grupo onde qualquer equipa pode ganhar a qualquer equipa. Vale que temos dois jogos Dragão -- o verdadeiro, não a cópia alemã -- e isso pode ser determinante para garantir o bilhete que resta para os oitavos. Sim, o do Besiktas já ninguém lho tira.

Brahimi enquanto durou: Numa partida genericamente péssima, sobram duas ou três notas de registo. Brahimi é uma delas. Não tanto pelo esclarecimento, mas pela forma abnegada como tentou carregar o FC Porto para a frente. Na primeira parte, foi o único escuteiro da equipa. Parecia que só ele tinha bússola para se orientar no meio do eucaliptal que era o Leipzig, tal era a quantidade de jogadores alemães por metro quadrado. Além disso, os poucos lances corridos de perigo do FC Porto passaram quase sempre pelo seu crivo.

Óliver: Embora fosse mais baixo do qualquer médio em jogo quando entrou, Óliver trouxe água fresca, estabilidade e bola ao meio-campo portista. Foi o homem certo na altura errada, pois os seus passes geométricos encontraram os companheiros já em declínio físico e anímico. Acima de tudo, fica patente que Óliver, não sendo insubstituível, é singular na equipa. Se a ideia é ter mais bola, ser menos vertical e mais soberano no centro, o espanhol tem de lá estar. Se o plano é ser mais rápido na transição, objetivo e ultra-vertical, o espanhol tem de sair. Não existem é receitas permanentes e ontem pedia-se mais da primeira do que da segunda.


Sérgio Conceição: A derrota pode até nem ser da sua responsabilidade, mas a má exibição da equipa é. Com Casillas e Ricardo em campo, é discutível afirmar que o resultado seria outro, mas é pouco provável que a equipa apresentasse o mesmo desnorte defensivo que mostrou na primeira metade. Sobretudo porque Iker é muito mais do que um homem entre dois postes. Se o FC Porto tinha chegado ao 12º jogo oficial da época com apenas seis golos sofridos, não o devia apenas às luvas do guardião espanhol mas também à sua capacidade em liderar e organizar a defesa. Dificilmente a opção técnica de trocar Iker por Sá é uma passagem de testemunho ou um capricho pessoal de Sérgio Conceição, que já provou ser mais inteligente do que o jogo de ontem demonstrou. E a ter havido um choque entre os dois pesos pesados do balneário, Casillas e Conceição, só existe uma solução possível: resolvê-lo. O quanto antes e para bem do FC Porto.

Meio-campo inoperante: O jogo de ontem ficou inevitavelmente marcado pelo arranque em falso, que enervou toda a equipa, mas o golo do empate - caído do céu - foi uma oportunidade desaproveitada para começar de novo. A somar a uma defesa já tremida, o meio-campo dos primeiros 60 minutos foi incapaz de colar sectores e ganhar segundas bolas, com Danilo a tentar apagar os incêndios que deflagravam à sua volta com apenas um balde de água e Sérgio Oliveira sem andamento nem poder de choque para ganhar duelos aéreos. Já Herrera demorou 45 minutos a decidir se queria ser um 8 ou um 9,5. Acresce dizer que os alemães também foram tacticamente superiores e pareciam conhecer (bem) melhor o FC Porto do que o FC Porto a eles.

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2 comentários :

  1. Só uma nota, sobre a forma de abordagem dos "dois pesos-pesados": não se deve pensar assim, só pode haver um líder que é o treinador. Nem o jogadar com mais estatuto se pode pretender comparar ou fazer substituir ao líder. Isso deve ser "sagrado". De resto, muito de acordo, como é hábito.

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    1. Concordo contigo nisso. Não coloco Iker no mesmo patamar de Sérgio Conceição. Usei a expressão como barómetro de personalidade, não de hierarquia, porque ambos me parecem demasiado alpha para resoluções suaves. É esperar que isto fique rapidamente sanado.

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