segunda-feira, 23 de outubro de 2017

FC Porto 6 x 1 Paços | Trivelas & Roscas


Vitória contundente. Resposta enérgica à ressaca de Leipzig de um Porto maduro e frutado, com leve nota artística. O adversário não deu para mais, é verdade. O Paços de Ferreira - a par do Belenenses quando joga contra o Benfica - é equipa que pior defende no campeonato. O sexto golo então é um workshop de "Futebol Primitivo - Como Defendiam as Equipas no Paleolítico", que embaraça qualquer treinador de Elifoot. Mas mesmo perante um castelo de cartas, o dragão achou por bem aplicar-lhe um vendaval ofensivo, o que demonstra a seriedade com que a equipa encarou o desafio. Não é assim tão incomum deixar pontos em jogos que damos subconscientemente como pré-ganhos. Ora porque a displicência pós-Champions se instala nos jogadores, ora porque o VAR está a espetar garfos nos olhos sempre que a bola passeia na área dos adversários do FC Porto. Era crucial vencer e o FC Porto convenceu. Mostrou que o que se passou na Alemanha ficou na Alemanha e que no Dragão as novelas de balneário duram menos que uma embalagem de Donuts na minha dispensa. E olhem que é difícil.

Ricardo Pereira: O golo inaugural é uma sinédoque do festival de ataque que se seguiu. Trocas de bola frenéticas, tabelas eficientes a rasgar a defesa pacense e discernimento em frente à baliza. Ricardo Pereira personificou a exibição do FC Porto naquele lance, sendo ele próprio o maior diabo à solta no meio daqueles girassóis desorientados com tantas estrelas para perseguir. Livre de constrangimentos defensivos, o lateral português é um terceiro extremo. O que é extremamente útil contra adversários que vêm ao Dragão com linhas de montagem mais proficientes do que a da Auto Europa. MVP da partida, Ricardo ainda somou duas assistências ao golo que marcou, na sua melhor performance desde que voltou. Em jogos de maior exigência defensiva, continuo a preferir Maxi. O uruguaio ainda nos vai ser muito útil nesta caminhada. Mas em dias assim, o palco merece ser de Ricardo. Perfeitamente apoiado pelo sidekick Corona e por um ou outro cameo de Brahimi no lado direito, o português quase fazia mais estragos no Paços do que os 50 casuals do Benfica ontem à noite na Vila das Aves.

Herrera: Podem montar a narrativa como quiserem. Podem não gostar daquele passe mais tosco ou daquele AVC da praxe. Podem achar que 60 minutos bons não compensam 30 minutos maus. Podem até recusar-se a perdoá-lo por aquele canto oferecido ao Benfica. Mas Herrera, este Herrera, é importante para o FC Porto. Com o mexicano em campo, a equipa joga de forma diferente, com maior velocidade nas transições e mais pragmatismo no ataque. Perde no domínio e capacidade de retenção da bola que Óliver dá, mas ganha na verticalidade e no jogo directo. Umas vezes seguro, outras desajeitado, Herrera encontrou nesta versaodo FC Porto a melhor forma de manifestar o seu futebol pendular. O único problema do mexicano é o binómio de opiniões em que vive - e para o qual ele activamente contribuiu no passado -, que leva os adeptos portistas a ter posições extremadas sobre a sua utilização. Não é incompatível com Óliver. Nem o complemento perfeito do espanhol. É somente diferente. Quem ganha, somos nós.

Marega: O facto de ter bisado torna-se quase irrelevante perante isto. E isto é o que eu quero ver na minha equipa nos próximos 100 anos. Um jogador à Porto.





Desequilíbrios: Há resquícios de Jorge Jesus em Sérgio Conceição. A forma como a máquina funciona de José Sá para a frente têm de agradar a qualquer adepto que pague para ver o FC Porto jogar, mas há coisas a melhorar. Nomeadamente, o equilíbrio na gestão do jogo. É bonito vermos o FC Porto inclinado para a frente, numa busca interminável pelo golo, sobretudo quando passámos os últimos quatro anos a vê-los passar para o lado ou para trás. Contudo, a equipa parece por vezes não perceber ou respeitar esses equilíbrios e embebeda-se, tal como nós, na vertigem ofensiva. O golo de Welthon nasce de uma perda de bola em zona proibida e numa altura em que o ímpeto era tanto que a equipa se esqueceu de como se devia distribuir no meio-campo. Um pormenor que não belisca mas que pode vir a fazer ferida se não for corrigido no futuro.

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