terça-feira, 11 de julho de 2017

Zé Marinho, o novo Berra

Em meados da década de 10, havia por aí um ícone da desonestidade intelectual que dava água pela barba aos rivais: Pedro Berra.

Berra era um avençado muito forte. No um para um, não dava qualquer hipótese. Arrumava sempre todo e qualquer argumento pela técnica da força e não pela força da técnica.

A estratégia era simples, mas inovadora. Berra apostava tudo no decibel. Na falácia em vez da razão. No atropelo da verdade com a mentira.


Na arte de fintar a realidade com o delírio não havia melhor no seu tempo. Quem jogou à bola sabe 
disto.

Contudo, um assomo de Alzheimer precoce acabaria por travar o voo do predestinado Pedro para outros patamares. Ironicamente, foi a falta de memória de Pedro Berra que levou os seus colegas de cartilha a votarem-no ao esquecimento.

Também porque na forja estava um outro avençado com imenso potencial: Zé Marinho. Ou Eagle One noutros círculos.

Igualmente versado em terrorismo comunicacional, Zé é uma figura em ascensão no Estado Lampiânico. Continua a não saber como funciona uma royalty, mas também não é para isso que lhe pagam. Na verdade, o avençado até faz muito bem o seu trabalho.


Ao contrário de Berra, que nos últimos anos foi perdendo mobilidade, Zé é um ponta-de-lança muito móvel. Em menos de dois anos, passou de anti-vieirista para vieirista acérrimo.

Agora um dos pentes mais proeminentes do bigode do ditador lampião, o avençado deixou o "doentio mundo das redes sociais", onde continua a escrever regularmente, para se entregar "ao estado mais puro e saudável de ser Benfica". Entende-se. Criticar um presidente que deu um tetra -- seja de que forma for -- é meio caminho andado para levar na tromba dos que querem vencer a todo o custo.


A imprevisibilidade é outra das marcas distintivas de Zé Marinho. O homem que diz escolher não ver programas de tertúlia futebolística em Portugal é atualmente comentador do programa Aquecimento na BTV, uma tertúlia sobre futebol.


A capacidade de dribble intelectual de Zé é notável. Em março deste ano, disse na mesma entrevista que o futebol português "é só truques", para logo a depois afirmar que acredita "mais hoje [nos árbitros] do que acreditava há vinte anos". Ele lá saberá porquê.

(Afinal, a culpa foi de quem fez o passe.)
Zé tem também uma enorme capacidade de antecipação. Consegue prever o mercado como ninguém. Zé antecipou com sucesso a venda de Carrillo por 35 milhões de euros, a ida de Diogo Jota para o Benfica, a vinda de Guardiola ao Estádio da Luz, a compra de Pjaca, a saída de Jonas, Hildeberto como o novo Renato Sanchez e por aí fora. Tudo tiros certeiros. Como faz um bom avençado.

Contudo, neste aspeto em particular, Zé tem a forte concorrência de uma outra promessa da agremiação: Rui Pedro Braz. Um dia, falarei sobre este wonderkid.

Mas há mais a unir Berra e Zé, além do corte de cabelo tosco. Um ódio inestimável pelos rivais, em particular o FC Porto, alimentado por uma constante distorção dos factos e de uma cegueira que faria Saramago repensar uma das suas grandes obras-primas.

Não é má interpretação. É cegueira.

Mais dia menos dia, Berra cai da cadeira. E alguém terá de o substituir na propaganda nacional-benfiquista, no branqueamento dos crimes do seu clube e na defesa do indefensável.

Nada se perde, tudo se transforma.

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Nota final: Quem se quiser divertir um pouco mais a acompanhar a carreira deste avençado do Estado Lampiónico pode procurar pela hashtag #AVidaSegundoZeMarinho no Twitter. Um belo projecto do @nunovalinhas.

Espreitem.

4 comentários :

Comenta com respeito e juízo. Como se estivesses a falar com a tua avó na véspera de Natal.