sexta-feira, 14 de julho de 2017

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Nada será como antes. A compra do Grupo Media Capital (dona da TVI) pela Altice (dona da MEO) vai mudar o paradigma dos media em Portugal e a sua relação com os clubes de futebol. A começar pelo FC Porto.

Importa perceber que as implicações deste negócio vão muito para além dos setores envolvidos. Sobretudo porque Altice e NOS são as principais fontes de receita publicitárias dos três clubes grandes em Portugal e da própria Liga, tendo por isso um vínculo muito directo com o futebol português.


A Altice é o principal patrocinador do FC Porto. Em dezembro de 2015, celebrou um acordo de direitos televisivos, publicidade estática, patrocínio nas camisolas e exploração do Porto Canal com o clube por cerca de 457 milhões de euros, sensivelmente o mesmo que vai pagar agora para adquirir a holding que detém a TVI.

Ora, TVI e FC Porto são duas coisas que não casam.

Desde o regresso ao canal, em 2014, de José Eduardo Moniz, um dos atuais vice-presidentes do Benfica, que a estação de Queluz de Baixo tem adotado uma postura pró-Benfica cada vez mais evidente.

Apesar de ter voltado "apenas" como consultor da área da ficção e entretenimento, ou seja, sem funções executivas, é inegável o peso e a influência de Moniz na estrutura de um canal que foi "seu" durante 11 anos (1998-2009).


O plano foi bem-sucedido. Moniz e o Benfica transformaram a TVI num veículo insuspeito da máquina de propaganda nacional-benfiquista, a mesma que hoje branqueia a todo o custo o maior escândalo de corrupção do futebol português.

Basta um breve olhar ao rooster actual dos programas desportivos "independentes" da TVI24 para constatar a precisão cirúrgica das contratações com a recomendação de Moniz.

Desde o convite ao incendiário Pedro Guerra -- agora exposto como uma das faces mais ativas do Apito Divino --, à ascensão de tipos como Rui Pedro Braz ou Luís Aguilar, os perigosos "independentes" que actuam sob o signo da cartilha encarnada, passando pelas manifestações pontuais de antiportismo de Pedro Pinto, um dos principais responsáveis pela informação do canal, a TVI tem demonstrado uma aproximação clara ao clube de Carnide.

A entrada em jogo do principal sponsor do FC Porto e do Sporting na estação é uma boa oportunidade para raspar parte do cancro. Mas se por um lado, convida a um possível reequilíbrio de poderes dos clubes nos media, por outro arrisca criar outros desequilíbrios.

Desde logo porque a fusão TVI/MEO abre uma nova corrida entre os operadores de telecomunicações às produtoras de conteúdos, pelo que não será nenhuma surpresa se nos próximos meses a NOS responder com uma oferta sobre a Impresa. Ou sobre a Cofina.

Para onde caminha a independência da comunicação social no meio disto tudo? E em que pé fica o valor comercial dos clubes perante este cenário?

É difícil prever o que vai acontecer a partir de agora. A única certeza é que a rivalidade deixou de ser meramente clubística e entrou oficialmente no sempre nubloso domínio ultracorporativo.

E não me lembro de nenhum emblema desportivo que alguma vez tenha saído a ganhar com as guerras de concorrência do grande capital. Nem de nenhum campeonato.

1 comentário :

  1. Sem dúvida que poderá ser um movimento muito importante, crucial até, na sobrevivência do FCPorto no meio dos media com repercussões no plano desportivo e até no tema quente atual que são os "emails".

    A questão é se a SAD do Porto vai chamar a atenção à Altice para os parasitas que (ainda) habitam no Grupo Media Capital e para o impacto negativo que eles têm conseguido dar.

    Santos

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